Apesar da saudade do presencial, maioria aprova aulas remotas
Por Central Multimídia de Conteúdo/Jornalismo [30/04/2020] [21 h16]
Sem data prevista para o retorno às atividades presenciais nas instituições de ensino de Santa Catarina, suspensas em razão da COVID-19, conforme anunciado pelo Governo do Estado, a maioria dos estudantes da Universidade Regional de Blumenau (FURB) prefere as aulas presenciais. Apesar da preferência, um estudo mostrou que estão relativamente adaptados às mudanças em relação aos processos pedagógicos impostos pelo isolamento, com as aulas remotas, embora sintam falta de conversas e atividades de lazer.
As conclusões são de levantamento feito pelos pesquisadores do Núcleo de Estudos da Tecnociência (NET), do Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Regional da FURB (PPGDR) com o objetivo de saber como os alunos da FURB concebem e se posicionam diante do isolamento social causado pelas medidas de controle da pandemia, bem como detectar os impactos do distanciamento social e a adaptação dos estudantes às aulas online. Os dados foram coletados entre 13 e 18 de abril, com 1.045 respostas obtidas.
Com melhores condições de isolamento, maior é o apoio
Mesmo com saudades das aulas presenciais, 75,9% acreditam que as aulas devem permanecer no modelo remoto, enquanto 12,5% apontaram que as aulas deveriam ser completamente suspensas e outros 11,6% disseram que o modelo presencial deveria ser retomado.
A pesquisa aponta que quanto melhores as condições sociais de isolamento, maior apoio e adesão. Os dados revelaram que dos respondentes, 914 acessam a Internet por meio de banda larga fixa (incluindo fibra ótica), 639 utilizam tecnologia de telefonia móvel e 53 utilizam Internet via rádio. Em torno de 70% dos estudantes possuem boas condições para realização de suas atividades pedagógicas durante o distanciamento social.
Sobre o nível de adaptação às aulas remotas, iniciadas em 23 de março, em uma escala que vai de um até 10, a média das respostas foi 6,452. As respostas com a nota mínima somaram 3,4% e com a nota máxima 9,1%. Considerando as avaliações acima de 5, o total de avaliações positivas sobre a condução das aulas remotas é de 67,1%.
Entre os estudantes, as mulheres são mais favoráveis ao isolamento (81,6%), contra 72,58% dos homens, mas ambos consideram importante o distanciamento social para garantir a segurança das pessoas.
O estudo revelou ainda que, em distanciamento social, a maioria dos estudantes ocupa seu tempo com as redes sociais. “Além das redes sociais, chama bastante a atenção a quantidade de alunos que indica que ocupam seu tempo com estudos e tarefas domésticas”, comenta o pesquisador Maiko Spiess, do NET. Somando ao tempo dedicado às redes o tempo de estudo online, verifica-se que a maior parte das atividades são conduzidas por meio de mediação tecnológica.
Quando os dados foram coletados, indicaram que 97,20% dos estudantes estavam saindo de casa somente quando necessário ou estavam totalmente isolados. “Esses dados não apresentaram variações significativas por centro de cursos da Universidade, portanto, é possível afirmar que, neste período, os estudantes da FURB mantiveram o distanciamento social”, afirma Spiess.
A pesquisa apontou também que quanto maior a renda, maior é o engajamento no distanciamento social. “Quando analisamos os dados de renda e trabalho por gênero, percebemos que 46,48% dos estudantes do sexo feminino são dependentes dos pais, enquanto 33,78% do sexo masculino. A mesma tendência é observada com relação ao trabalho formal: enquanto 30,42% estudantes do sexo feminino são trabalhadores formais, no masculino a taxa atinge 45,15%. Isto indica que os estudantes do sexo masculino são menos dependentes dos pais, o que implica, evidentemente, um maior nível de trabalho para geração de renda”.
No período de realização da pesquisa predominavam os sentimentos negativos. Ansiedade (708 menções), tédio (516) e irritação (430) foram os mais citados. Outros sentimentos mencionados foram a falta de contatos em eventos sociais com os amigos (813 menções) e falta das aulas presenciais (696). Quando solicitados que indicassem a falta das aulas presenciais em uma escala de 1 a 10, 59,6% responderam 9 ou 10 (“sinto muita falta”). Porém, vale destacar também menções a sentimentos positivos, como solidariedade e otimismo.
O estudo conclui que, de forma geral, o estudante da FURB tem computador e celular, sente-se adaptado à modalidade online, consegue reservar um horário do dia para estudar, tem dificuldade para se concentrar, aprecia comodidade e a flexibilidade, mas sente falta da sala de aula e dos contatos diretos.
Do ponto de vista das atividades de ensino-aprendizagem, a pesquisa indica que isso pode levar a uma fadiga digital que, a médio e longo prazo, pode diminuir a eficácia dos estudos online. “No nível macro, significa que gradualmente fica mais difícil gerenciar as expectativas da população sobre o fim da pandemia. Como parecem indicar as aglomerações em centros comerciais após a flexibilização das regras de isolamento, muitas pessoas não percebem que a situação ainda não está resolvida. Isto é, elas não se dão conta de que a normalidade está localizada no futuro, e não no presente” reforçam os pesquisadores.