Professores universitários defendem SUS e Ciência

Professores universitários defendem SUS e Ciência

Foto: CCM

Valorizar a ciência, fortalecer o SUS, investir em formação para a educação e usar a tecnologia para aproximar as pessoas são as respostas dos professores ligados aos dez cursos do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da FURB sobre os impactos e desafios apresentados pela Covid-19. Eles participaram de um painel online que abordou desde a atuação profissional em tempos de pandemia até as mudanças que o novo coronavirus deve provocar no comportamento da sociedade contemporânea.
 
Os professores apontam que a ciência é a única capaz de acelerar os diagnósticos, confirmar os medicamentos e apontar soluções de enfrentamento aos mais diversos aspectos desta pandemia. É consenso entre eles que o papel da ciência ganhou força com o enfrentamento à Covid-19. Acabou o tempo do achismo. Na saúde, mais do que nunca, a atuação deve ser baseada em evidências científicas.
 
“Estamos vendo muitos estudos sendo publicados com metodologias frágeis e sabemos que estes estudos terão que ser refeitos e aprofundados e que isto requer recursos”, considera o professor Carlos Nunes, do curso de Psicologia e diretor do CCS. “Temos que lutar para manter investimentos em ciência, nessa pandemia vimos que o dinheiro para isso existe”, pontua a professora Luciane Coutinho, de Nutrição.
 
O professor de Medicina Veterinária, Thiago Batista, cita a necessidade de estudos que demonstrem a relação (ou não) de interação do novo Coronavírus com animais de estimação, por exemplo. “Recebemos muitos questionamentos neste sentido, mas não existe artigo hoje que demonstre uma interação real, principalmente entre cães e gatos, como disseminadores da doença”, afirma.
 
Além de investir em pesquisa, reconhecer e fortalecer o Sistema Único de Saúde, o SUS, também é fundamental, segundo os professores. Para Karla Ferreira, do curso de Medicina, a Covid-19 demonstrou a importância de um sistema nacional no enfrentamento à pandemia. “Havia, até então, uma tendência a privatização do modelo de saúde, que passaria a ser por produção. A Covid-19 derruba isso e mostra a necessidade de ampliar investimentos no SUS” acredita a professora.  
 
“A sociedade precisa decidir a prioridade da verba pública. Se é para a saúde ou para jantares regados a vinho e caviar” considera o professor Caio Córdoba, do curso de Farmácia. Profissional de análises clínicas, Córdoba cita o sucateamento da área que, apesar das dificuldades, tem dado respostas ao realizar exames de suporte e diagnóstico da doença. “Precisamos mudar a percepção e reforçar nossa importância profissional como área estratégica dentro do sistema de saúde, mas que está sucateada. Quando teremos o diagnóstico molecular implantado nos hospitais das cidades de médio porte?”, questiona.
 
Educação e equilíbrio
 
A necessidade de equilibrar o social e o econômico, acentuada pela Covid-19, também foi discutida no encontro online. O professor Marcio Rastelli, do curso de Odontologia, diz que gostaria que esse equilíbrio existisse e que a sociedade espera que o ser humano venha em primeiro lugar, mas que a tendência é que o viés econômico prevaleça.
 
A professora Paula Roratto, de Biomedicina, acredita que o equilíbrio entre saúde e economia seja possível, só que em outra realidade, como a da Coreia do Sul. “Podemos usar a Coreia do Sul como exemplo para as próximas situações e aprender que o necessário é, primeiro, educar a população”, reforça Paula. Ela cita que tirar de circulação somente os grupos de risco, como os idosos, exige um nível de educação e disciplina que o Brasil ainda não tem.
 
Para melhorar essa condição, a formação dos profissionais de saúde também precisa avançar. É o que destaca o professor Fabio Matos, de Fisioterapia. “Mais do que profissionais da Fisioterapia, temos que formar educadores, pessoas capazes de levar a informação, de educar o sujeito que está na ponta. Isso tem grande impacto e os alunos vão sentir essa transformação” afirma Matos.
 
Se a educação é primordial, também existe a necessidade de criar novos modelos de trabalho e atividades. Um exemplo citado foi a ampliação e regulamentação do uso da telemedicina. “Sou otimista, acredito que vamos conseguir mudar algumas coisas, outras vai ser mais difícil, como o “ficar em casa”, até que se entenda essa condição social que nos diz que as guerras, daqui para a frente, serão biológicas. A economia terá que seguir nesse rumo, considerando períodos de isolamento”, afirma ainda o professor.
 
Outro assunto abordado foi o programa Brasil Conta Comigo, estratégia adotada pelo Governo Federal para cadastrar profissionais de saúde interessados em participar da força tarefa nacional no combate à Covid-19. A professora Andreia Silva, do curso de Enfermagem, não vê muita efetividade no programa para a área.
 
Segundo o Conselho Federal de Enfermagem, 60% da força de trabalho da saúde já é formada por profissionais de enfermagem, “já estamos na ponta”, reforça Andreia. Para a professora do curso de Educação Física, Caroline Schramm Alves, coordenadora e organizadora do webinar, o programa foi mal articulado pelo Ministério da Saúde com os conselhos federais e isso dificulta a adesão dos profissionais.
 
Novo normal
 
Para encerrar o debate, o tema proposto foi o “novo normal” da sociedade contemporânea. Os professores concordam que, depois da pandemia, é preciso repensar e reduzir o consumo e agir de modo mais integrado ao meio ambiente. O novo normal exige mudança de valores, de crenças e prioridades.
 
Porém, segundo o professor Carlos Nunes, de acordo com modelos da ciência psicológica, quando o novo Coronavírus deixar de ser uma ameaça, o comportamento das pessoas tende a voltar aos níveis de antes da pandemia. “Vimos isso com a H1N1, durante muito tempo o uso de álcool gel foi amplamente disseminado, até cair no esquecimento” lembra Nunes.
 
Como legados da Covid-19, os professores destacam também as experiências exitosas com o uso da tecnologia para as aulas remotas e as novas habilidades que estão sendo desenvolvidas neste período e sugerem usar este conhecimento para modificar o comportamento da população em prol da promoção da saúde. “Temos que nos reinventar, fazer uso das novas tecnologias e achar uma maneira mais equilibrada de viver, outras pandemias virão” finaliza a professora Caroline.
 
O webinar ocorreu na quarta-feira, 15 de abril, a partir das 19 horas e teve uma hora e 40 de duração. O painel foi realizado pela plataforma Teams, da Microsoft, que tem sido utilizada pela FURB para as aulas remotas.