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19/08/2016 - Professor de Artes pode despertar a paixão de aprender


“Todo bom professor de Artes desperta a paixão de aprender em seu aluno. A aula de Artes não é e nem pode ser uma aula igual às outras, porque ela engaja o corpo e a sensibilidade do aluno, não é uma mera transação intelectual – ela tem a ver com a vida e com as emoções mais profundas”.
 
A declaração é da socióloga e jornalista Evelyn Ioschpe, presidente da Fundação Iochpe e do Instituto Arte na Escola, que participou da abertura do 4º. Encontro Regional Sul do Arte na Escola, que começou quarta-feira e encerra hoje na FURB, como divulgado aqui.
 
O Instituto Arte na Escola é uma associação civil sem fins lucrativos que, desde 1989, qualifica, incentiva e reconhece o ensino da arte, por meio da formação continuada de professores da Educação Básica. Leia mais aqui.
 
Mesmo com todo esse esforço do Instituto, o cenário ainda é desolador, segundo Evelyn Ioschpe, pois “dos 526 mil professores de Arte em atividade (no fundamental e médio) apenas 6% (33 mil) são formados em Arte. Vem daí a grande necessidade de formação continuada para dar instrumentos a este professor”.
 
Leia o discurso, na íntegra, de Evelyn Ioschpe
 
“A Arte Educação no mundo todo cresceu em importância. No Brasil tornou-se obrigatório. Em 2016 as quatro linguagens se tornaram obrigatórias.  Novos desafios, novas oportunidades neste Encontro serão analisados. Destaque: todos os palestrantes do Encontro são doutores. Quando iniciamos há mais de 25 anos, nenhum de nossos Coordenadores eram Doutores – nem Mestres.
 
O setor tem estado a altura dos desafios formulados.  Mesmo assim, ainda hoje o cenário é desolador: dos 526 mil professores de Arte em atividade (no fundamental e médio) apenas 6% (33 mil) são formados em Arte. Vem daí, a grande necessidade de formação continuada para dar instrumentos a este professor.
 
Desde o início de nosso projeto lutamos para buscar a excelência em nosso trabalho. Quando iniciamos, buscamos a Getty Foundation em Los Angeles para conhecer o trabalho que vinha sendo feito por lá baseado no DBAE – Discipline Based Art Education. Fizemos um intercâmbio com as Universidades através das quais o Getty trabalhava, especialmente com a Ohio University, com o  Summer Institute da Universidade de Chattanooga, no Tennesee,    sob a orientação do grande teórico e educador Elliot Eisner, nosso grande mentor.
 
Agora, fomos buscar nova orientação junto a Universidade de Harvard, que mantém o Project Zero com importantes pesquisas sobre como as pessoas aprendem as questões relativas às Inteligências Múltiplas. Harvard mantém na Graduate School of Education, um Instituto em parceria com Yo-yo ma e o Silk Road Ensemble, que eles denominam The Arts and Passion Driven Learning, ou seja, As Artes e o Aprendizado Baseado na Paixão.
 
Considero este tema fascinante porque todo bom professor de arte desperta a paixão de aprender em seu aluno.  A aula de artes não é e nem pode ser uma aula igual as outras, por que ela engaja o corpo e a sensibilidade do aluno, não é uma mera transação intelectual – ela tem a ver com a vida e com as emoções mais profundas.
 
O Instituto de Harvard também buscou as outras linguagens artísticas para oferecer uma experiência completa aos professores e administradores que o frequentaram. Trouxeram de Londres a Diretora de Movimento do Shakespeare Globe, Profa. Glynn MacDonald e da Itália a Profa. Carla Rinaldi, Diretora de Reggio Emilia.  O foco do Instituto este ano foi “listening” – a escuta, o foco na escuta dos aprendizes.  Mas foi igualmente o registro desta escuta criteriosa – a documentação, pois não existe acúmulo de conhecimento sem documentação.
 
O aprendizado com paixão envolve o que vocês estão fazendo aqui neste momento: movendo sua curiosidade, fazendo perguntas cada vez melhores, num mundo como o nosso em que as respostas se tornam desatualizadas num piscar de olhos. E que faz com que tenhamos que colocar muito mais ênfase em fazer perguntas, estabelecer conexões, construir teorias, sempre informados pela emoção ditada por nossas sensibilidades.  Porque temos que ensinar ao aluno e ao professor qual a atitude mental que ele necessita para seguir aprendendo pela vida afora. Não adianta ensinar uma linguagem, se hoje são múltiplas as linguagens que todos escutamos todos os dias.
 
Eu, pessoalmente, que sou da época em que se especulava que o esperanto (alguém hoje sabe o que é isto?) seria a linguagem universal, nunca imaginei que imagens substituiriam palavras para traduzir emoções, estados de espírito e inclusive fatos. Pois o que é o Emoji? Nesta Revolução Digital de nossos dias isto que parece uma brincadeira do teclado de nossos computadores e que primeiro foi apropriada pelos mais jovens, hoje é linguagem universal. Ao invés de dizer ou de escrever, utiliza-se imagens pré-fabricadas, cuja justaposição cria um novo alfabeto. 
 
Alguém aqui já deu uma aula em Emoji? Quando usávamos aquela frase feita de que “uma imagem vale mil palavras”, não pensávamos no Emoji. Em Reggio Emilia se fala das 100 linguagens da criança – de quantas o professor precisa se apropriar para poder se comunicar? E os sons? Que linguagem consegue ser mais universal que o som, a música, o tom, a coloratura? Quando se quer representar a nacionalidade, que signo é mais potente?  
E o movimento, a dança? Penso no que estamos vivendo estes dias, no Brasil, com as Olimpíadas. Se não conseguirmos fazer bonito em desempenho atlético, o fato é que nossa cultura magnetizou o mundo na abertura dos Jogos. As imagens que valeram mais do que mil palavras e que levaram nas asas do 14 Bis, da estética de Niemeyer ao traçado de nossas favelas, embalados pelo piano potente do Jobim, a viola do Paulinho, nossa bossa-nova, o samba, o funk e o hip hop. O mundo arrepiou – e nós também. 
 
Sim, podemos fazer uma leitura política de tudo isto – mas não é o caso agora. Queria sublinhar que a arte e a cultura neste país são como um rio piscoso que passa a nossa frente, basta preguiçosamente esticar nosso anzol para captá-las.
 
Mas não é este o papel do professor. Quero convidá-los para dar um passo a mais. E levar os seus alunos a darem um passo a mais. Moverem a sua curiosidade e a sua visão de mundo um passo a mais. Por que hoje cada um é o curador de seu algoritmo. E o que o professor pode fazer neste cenário é entreabrir a próxima porta para que juntos, professor e alunos, possam espiar o que os espera alí adiante. E dar o próximo passo”. 
Publicação: 19/08/2016 - 11h55 - Gabinete da Reitoria/Jornalismo | Foto(s): Renato Luiz Becker de Britto/Estagiário Jornalismo DAEX

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