Pesquisa da FURB comprova efeitos negativos de agrotóxicos usados no cultivo de arroz em espécie nativa de sapo

Pesquisa da FURB comprova efeitos negativos de agrotóxicos usados no cultivo de arroz em espécie nativa de sapo

Foto: Acervo pessoal

Uma pesquisa de Mestrado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Regional de Blumenau (PPGEA/FURB) revelou que agrotóxicos usados no cultivo de arroz irrigado comprometem o desenvolvimento da espécie nativa Boana faber, popularmente conhecida como sapo-martelo. O estudo foi desenvolvido pela pesquisadora Aline Warsneski, Mestre em Engenharia Ambiental, sob orientação do professor Eduardo Alves de Almeida, Doutor em Bioquímica e referência no estudo dos efeitos de poluentes sobre os anfíbios.

Os pesquisadores identificaram a presença de nove tipos de agrotóxicos no rio localizado nas proximidades das lavouras de arroz em Massaranduba, no Norte do Estado: cinco herbicidas, dois inseticidas e dois fungicidas. A presença de tais substâncias fora das lavouras revela que os agrotóxicos usados na rizicultura se dispersam para os ecossistemas naturais, o que corrobora a necessidade de avaliar seus efeitos sobre espécies animais que habitam esses ambientes. A pesquisa conduzida por Warsneski e Almeida dedicou-se, em um primeiro momento, a avaliar os efeitos dos fungicidas, substâncias amplamente utilizadas no cultivo agrícola para combater fungos que limitam a produtividade das lavouras.

A exposição de girinos de sapo-martelo, em laboratório, às concentrações de fungicidas idênticas às encontradas em ambiente natural demonstrou que tais substâncias afetam o desenvolvimento e o metabolismo dos animais de forma significativa. A análise revelou efeitos negativos sobre os marcadores bioquímicos e o fígado dos animais, além de alterações no desenvolvimento. Os resultados suscitam preocupação, já que tais alterações podem resultar em animais menos capazes de competir por recursos no ambiente natural, além dos possíveis efeitos sobre a capacidade reprodutiva. O estudo conduzido por Warsneski e Almeida é inédito, já que pesquisas anteriores estudaram espécies invasoras, como a rã-touro. Os resultados permitiram identificar que o sapo-martelo é mais sensível aos efeitos dos agrotóxicos do que a rã-touro.

Santa Catarina é o segundo maior produtor de arroz do país por meio da técnica de plantio irrigado, que garante maior produtividade, mas a drenagem da água das lavouras na fase final de cultivo pode resultar na dispersão das substâncias utilizadas para rios e córregos próximos. Almeida avalia que o uso dos agrotóxicos é necessário em determinados contextos, para garantir a produção de alimentos, mas ressalta a necessidade de fomentar a consciência sobre seus efeitos, além de promover ações voltadas à preservação da biodiversidade.

 

Como a pesquisa foi realizada

O estudo de Warsneski é o primeiro fruto de um esforço de pesquisa liderado pelo professor Eduardo Alves de Almeida com foco na investigação dos efeitos dos agrotóxicos usados na rizicultura sobre a espécie Boana faber, popularmente conhecida como sapo-martelo. As coletas em campo foram realizadas ao longo de seis meses, a cada 15 dias, entre agosto e dezembro de 2021, período em que ocorre o cultivo de arroz. Os pesquisadores coletaram amostras de água dos canais de drenagem dos arrozais e do rio Putanga, localizado nas proximidades das lavouras no município de Massaranduba, no Norte do Estado. Análises químicas revelaram a presença de nove agrotóxicos nas amostras provenientes do rio: cinco herbicidas, dois inseticidas e dois fungicidas. Coube a Warsneski a análise dos efeitos dos fungicidas, Tebuconazol e Azoxistrobina, enquanto os demais pesquisadores do grupo dedicaram-se ao estudo das demais substâncias.

Além das amostras de água, foram coletadas do ambiente amostras de girinos de sapo-martelo para a realização dos experimentos em laboratório. A escolha por estudar a espécie levou em consideração o fato de ser nativa e abundante na região, além de não estar sob ameaça de extinção, o que permitiu aos pesquisadores coletar um número suficiente de indivíduos para realizar o estudo sem gerar prejuízos à população da espécie. A coleta dos animais foi realizada em área preservada no município de Rio dos Cedros, distante, portanto, da influência das lavouras de arroz e sem a presença de agrotóxicos.

A concentração de fungicidas encontrada no rio foi reproduzida em laboratório e os girinos coletados em ambiente preservado foram expostos às substâncias por 16 dias. Os indivíduos expostos à Azoxistrobina tiveram retardo no desenvolvimento, enquanto os girinos expostos ao Tebuconazol e à mistura de ambos os agrotóxicos tiveram seu desenvolvimento acelerado. As análises foram realizadas utilizando a estrutura do Centro de Estudos em Toxicologia Aquática (CETAq) da Universidade Regional de Blumenau (FURB).

Almeida ressalta que há uma lacuna de conhecimento sobre o modo como os poluentes afetam os anfíbios, sobretudo na fase inicial de vida, quando ainda são exclusivamente aquáticos. O pesquisador dedica-se ao estudo do tema desde 2010 e é um dos editores do primeiro livro dedicado especificamente aos efeitos de poluentes sobre os anfíbios em fase inicial de vida, publicado em dezembro de 2023. A obra, publicada em inglês, reúne 14 artigos de pesquisadores provenientes de diversas instituições de ensino e pesquisa.

 

FURB Pesquisa

A pesquisa desenvolvida por Aline Warsneski foi tema do programa FURB Pesquisa desta semana: