Pesquisadores da FURB transformam resíduo da casca do palmito em pasta de celulose; material já está sendo produzido em larga escala
Por Lucas Adriano [06/11/2024] [16 h50]
Resumo
- Pesquisadores da FURB desenvolveram uma pasta de celulose a partir de resíduos de palmito, usada como mulch agrícola para proteger o solo e facilitar a germinação em áreas degradadas.
- A produção é realizada por indústria regional e emprega tecnologia patenteado pela universidade.
- A equipe também criou nanofibras de celulose, aplicáveis nas indústrias farmacêutica, cosmética e de tintas, utilizando métodos sustentáveis. A patente está em análise e disponível para licenciamento via Agência de Inovação Tecnológica (AGIT) da FURB.
Confira a matéria completa:
Pesquisadores do Departamento de Engenharia Química da Universidade Regional de Blumenau (FURB) desenvolveram uma pasta de celulose a partir de resíduos da indústria do palmito. O produto possui múltiplas possibilidades de aplicação industrial e já está sendo empregado como mulch, um tipo de cobertura que protege o solo e favorece vários tipos de plantio. O processo de pesquisa que resultou no desenvolvimento do produto foi liderado pelos pesquisadores Lorena Benathar Ballod Tavares, Doutora em Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica, e Atilano Vegini, Doutor em Engenharia Química. A tecnologia desenvolvida pelos pesquisadores teve a patente concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) e é objeto de parceria entre a FURB e empresa Estrela Distribuidora de Derivados de Petróleo.
Pastas de celulose são comumente utilizadas na produção de papel. Os estudos conduzidos pelos pesquisadores, no entanto, mostraram que o material desenvolvido por eles poderia ter múltiplas aplicações industriais. O trabalho despertou o interesse de uma empresa paranaense que financiou as fases finais da pesquisa e instalou uma fábrica para produção da pasta em larga escala. Atualmente, a pasta de celulose produzida a partir das bainhas de palmito é empregada na produção do chamado Biomulch, produzido pela empresa Biosemear em Luiz Alves (SC).
O mulch é uma técnica agrícola que consiste em cobrir o solo ao redor das plantas com material orgânico para protegê-lo e controlar os níveis de umidade, por exemplo. Segundo os pesquisadores, o Biomulch produzido a partir dos resíduos de palmito possui as características ideais para a chamada hidrossemeadura, uma técnica de plantio utilizada para recuperar a vegetação de áreas degradadas que emprega uma mistura líquida de sementes, nutrientes, fibras e estabilizantes. O produto forma uma manta fibrosa biodegradável capaz de reter a umidade, controlar a temperatura e a luminosidade, favorecendo a germinação de sementes em terrenos inclinados. O mulch produzido a partir de resíduos de palmito já tem sido utilizado em processos de hidrossemeadura em áreas de encosta em várias cidades da região.
Vegini explica que o projeto é um exemplo de desenvolvimento de inovação tecnológica “de ponta a ponta”, pois teve início nos laboratórios da universidade e hoje está em produção na indústria. O processo de pesquisa que resultou no desenvolvimento da pasta de celulose teve início há cerca de 20 anos a partir de pesquisas desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental sob o comando da professora Lorena Benathar Ballod Tavares. O objetivo inicial era ajudar a resolver um passivo ambiental gerado pela indústria do palmito, já que, durante o processo de produção, as chamadas “bainhas” do palmito não são aproveitadas e se transformam em resíduos. A partir de então, os pesquisadores reuniram esforços para o desenvolvimento de alternativas de utilização do material, entre as quais se destaca a pasta de celulose produzida a partir das bainhas da palmeira real, amplamente produzida na região.
Pesquisadores buscam parceria para aprofundar pesquisas sobre nanocelulose
A evolução do conhecimento acerca das propriedades das bainhas do palmito permitiu o desenvolvimento de outros produtos. A partir da pasta de celulose, os pesquisadores desenvolveram um processo de produção capaz de extrair as chamadas nanofibras de celulose, fibras com diâmetro muito reduzido – na faixa dos nanômetros. “Já estamos na fase de produzir a nanocelulose em uma escala um pouco maior e partir para as aplicações. Por exemplo, a gente tem aplicação na área farmacêutica, de cosméticos, de tintas industriais e na própria indústria de papel e celulose”, enfatiza Vegini.
O processo de produção de nanofibras de celulose desenvolvido pelos pesquisadores tem como diferenciais o baixo consumo de compostos químicos, a geração de efluentes de baixa toxicidade, maior eficiência energética e menor complexidade constitutiva e de manutenção. O produto pode ser apresentado como sólidos particulados, pastas e hidrogéis. A patente da tecnologia encontra-se em análise pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) e pode ser licenciada por investidores interessados.
O processo de produção de nanofibras de celulose integra a Vitrine Tecnológica da AGIT, que conta com mais de 20 produtos e tecnologias disponíveis para licenciamento. Empresas interessadas devem entrar em contato com a Agência de Inovação Tecnológica da universidade através do telefone (47) 3321 0605 ou do e-mail agit@furb.br.