Pesquisa FURB revela que massa muscular baixa e gordura corporal alta prejudicam controle glicêmico em pacientes com Diabetes Mellitus tipo 1
Por Camila Maurer [13/12/2024] [14 h35]
Estudo foi realizado com pacientes atendidos no Núcleo de Atenção ao Diabetes de Blumenau
Uma pesquisa desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Regional de Blumenau (PPGSC/FURB) identificou relação entre composição corporal e controle glicêmico em pacientes com Diabetes Mellitus tipo 1 atendidos em um serviço de referência em Blumenau (SC). O estudo revelou que a maior parte dos participantes apresentava baixa massa muscular e gordura corporal elevada, condição que se mostrou prejudicial ao controle glicêmico. O estudo foi conduzido pela pesquisadora Thabata Glenda Fenili, endocrinologista e Mestre em Saúde Coletiva, sob orientação da professora Deisi Maria Vargas, Doutora em Pediatria.
A pesquisa avaliou a composição corporal e o controle glicêmico de 49 pacientes atendidos no Núcleo de Atenção ao Diabetes (NAD), serviço de referência que recebe pacientes diabéticos atendidos na rede municipal de saúde de Blumenau. Fenili explica que a composição corporal pode ser dividida, de forma geral, entre massa gorda (acúmulo de gordura) e massa magra (músculo). A proporção de cada um desses elementos influencia o funcionamento do organismo. “A gente considera esses dois componentes como órgãos endócrinos. Tanto a gordura quanto o músculo produzem substâncias que são responsáveis por regular o metabolismo energético, o metabolismo da glicose, o metabolismo dos lipídios. Eles agem localmente, à distância, no controle dessas funções”, esclarece.
O estudo identificou que a maior parte dos pacientes estudados não tinha controle glicêmico adequado. A média de hemoglobina glicada encontrada pela pesquisa foi de 9,6%. Esse parâmetro é utilizado para identificar se o paciente possui um bom controle do diabetes. A meta de controle adotada pelas pesquisadoras seria de até 7%, mas apenas 8% dos participantes encontravam-se dentro dessa meta. Um quarto dos pacientes apresentava baixa massa magra, cerca de 40% tinham aumento de gordura visceral e metade dos pacientes apresentavam sobrepeso ou obesidade. A análise dos dados encontrados revelou que a baixa massa magra e o alto índice de gordura corporal associam-se a um pior controle glicêmico. De acordo com as pesquisadoras, a condição identificada pelo estudo favorece o aparecimento de outros problemas, como resistência insulínica e obesidade sarcopênica, doença caracterizada pelo excesso de gordura e perda de massa magra.
Os pacientes estudados tinham entre 15 e 45 anos. De acordo com Vargas, a escolha da faixa etária foi pensada para minimizar o efeito da idade sobre a composição corporal. “Na puberdade, existe uma mudança bem importante da composição corporal em função do desenvolvimento puberal, porque começam a produzir os hormônios femininos e masculinos e esses hormônios têm ação diferente na composição corporal. Então a gente pegou adolescentes depois da puberdade e eliminou os idosos e a mulher na pós menopausa, porque ali também existe uma outra condição fisiológica que altera a composição corporal”. De acordo com a pesquisadora, a tendência é que se tenha menos massa magra antes da puberdade e após a menopausa.
Os pacientes que aceitaram participar da pesquisa assinaram um termo de consentimento e foram encaminhados até o campus 3 da FURB para a realização de questionários sobre aspectos como padrão alimentar, atividade física, qualidade de vida e consumo de bebidas alcoólicas, por exemplo, além de um questionário sociodemográfico. A avaliação da composição corporal foi feita por meio de bioimpedância elétrica, um método que estima a composição corporal de forma indireta a partir da resistência dos tecidos do corpo à passagem de uma corrente elétrica de baixa amplitude.
Controle glicêmico é desafio para os pacientes
A dificuldade no controle adequado dos níveis de açúcar no sangue é um achado que preocupa as pesquisadoras, já que menos de 10% dos pacientes pesquisados estavam dentro das metas de controle glicêmico. Na avaliação de Fenili, a dificuldade no manejo do diabetes decorre de uma série de fatores, entre eles a falta de conhecimento dos pacientes sobre a doença. A dificuldade na aplicação das doses corretas de insulina e na monitorização adequada da glicemia são alguns dos fatores que contribuem para um mau controle glicêmico. “No contexto da saúde pública, a gente tem dificuldade de esses pacientes terem, às vezes, uma alimentação adequada, uma prática de atividade física, por mais que a gente pense que eles podem praticar isso em qualquer ambiente, ainda existem barreiras”, ressalta.
Vargas, orientadora do estudo, lembra que nem todos os tipos de exercício estimulam a hipertrofia muscular e que a aplicação correta das doses de insulina e o consumo de proteína em todas as refeições são fundamentais para a formação de massa magra. “Para você manter a massa magra ao longo da vida, é preciso fazer exercícios resistidos, como a musculação. E a questão do controle glicêmico é outro fator porque o paciente que não faz a insulina corretamente não vai formar músculo, porque a insulina é o nosso hormônio anabólico, então ela forma o corpo, a gente se apropria do alimento e forma os músculos, os ossos”, explica.
Pacientes com controle glicêmico ruim estão mais expostos a complicações microvasculares que podem levar a problemas de visão, alterações renais, alterações dos nervos e da sensibilidade dos membros, com riscos de amputações e lesões, por exemplo. A hiperglicemia crônica também aumenta o risco de infartos e acidentes vasculares cerebrais. Fenili enfatiza que o controle glicêmico bem-feito, mantendo os valores de hemoglobina glicada abaixo de 7, reduz significativamente todos esses riscos.
Sobre o Diabetes Mellitus tipo 1
O Diabetes Mellitus tipo 1 é uma doença autoimune que causa a destruição das células do pâncreas responsáveis pela liberação de insulina, hormônio que regula o nível de açúcar no sangue. Com a destruição dessas células, o paciente fica completamente dependente da aplicação de insulina para sobreviver. As causas da doença ainda não estão totalmente esclarecidas, mas sabe-se que fatores genéticos podem influenciar. A ocorrência de infecções virais também tem sido vista por especialistas como uma possível causa de deflagração de processos autoimunes que podem levar ao diagnóstico de diabetes tipo 1. Menos comum do que o tipo 2, o diabetes tipo 1 é frequentemente diagnosticado ainda durante a infância e adolescência, mas também pode surgir em adultos e idosos.
FURB Pesquisa
O estudo foi tema do programa FURB Pesquisa desta semana: