Pesquisa FURB investiga sexualidade de mulheres em tratamento de hemodiálise

Pesquisa FURB investiga sexualidade de mulheres em tratamento de hemodiálise

Foto: RTE FURB

Conclusões do estudo alertam para barreiras no diálogo sobre o tema nos serviços de saúde

 

Uma pesquisa de Mestrado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Regional de Blumenau (PPGSC/FURB) investigou como mulheres em tratamento de hemodiálise compreendem e vivenciam a sexualidade. O estudo foi conduzido pela pesquisadora Solange Imhof, Mestre em Saúde Coletiva, sob orientação da professora Luana Gabriele Nilson, Doutora em Saúde Coletiva. O objetivo das pesquisadoras é lançar luz sobre o tema, ainda pouco abordado pela literatura científica, e incentivar o diálogo entre pacientes e profissionais de saúde.

A pesquisadora, que trabalha como psicóloga em uma clínica de hemodiálise, realizou entrevistas semiestruturadas com 13 pacientes mulheres que realizam tratamento de hemodiálise há pelo menos 3 meses. As pacientes realizam sessões de hemodiálise duas ou três vezes por semana como parte do tratamento para Doença Renal Crônica. A terapia permite a remoção do excesso de líquidos e substâncias tóxicas acumuladas no organismo e precisa ser mantida por toda a vida ou até que o paciente receba um transplante de rim. O Censo Brasileiro de Diálise realizado pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) revelou que mais de 170 mil pessoas são submetidas a diálise no Brasil, 41% são mulheres. Nos últimos 10 anos, o número de pessoas submetidas ao tratamento de diálise cresceu 55%.

As entrevistas foram transcritas e analisadas com base na teoria histórico-cultural de Vygotsky, que enfatiza a importância das interações sociais e culturais no desenvolvimento humano. Os resultados apontam que a sexualidade é frequentemente compreendida de forma restrita, limitada ao ato sexual. Os relatos indicam que a sexualidade ainda é um assunto cercado de barreiras culturais e silenciamentos. Muitas entrevistadas relataram dificuldade em falar sobre o assunto até mesmo com seus parceiros. A pesquisa identificou, ainda, alta prevalência de disfunção sexual entre as mulheres que compõem o grupo, que apontam questões como queda de libido e alterações na percepção do próprio corpo influenciadas por condições como inchaços e cicatrizes, por exemplo. 

Além das entrevistas, a pesquisadora realizou uma revisão de escopo que permitiu mapear o conhecimento científico existente sobre o tema. A revisão, que considerou estudos publicados em todo o mundo, revelou que mulheres em hemodiálise apresentam alta prevalência de disfunção sexual (87%), aspecto capaz de afetar significativamente a saúde integral e a qualidade de vida.  O levantamento mostrou, ainda, que há uma lacuna de conhecimento sobre o assunto, principalmente se considerada a necessidade de olhar para o conceito de sexualidade de forma mais ampla. “Foram encontrados apenas 38 estudos que falam a respeito de sexualidade de mulheres em hemodiálise. E dentro desses estudos, o que ficou muito aparente é que a sexualidade é vista pela ótica da disfunção sexual. Então, assim como a saúde não pode ser vista como ausência de doença, a sexualidade não pode ser vista como ausência de uma disfunção sexual”, destaca a autora da pesquisa.

As pesquisadoras explicam que a sexualidade é uma dimensão fundamental da experiência humana que envolve aspectos biológicos, psicológicos, sociais e culturais por meio da qual os indivíduos expressam pensamentos e sentimentos como amor, afeto, intimidade e companheirismo. Nesse sentido, a sexualidade inclui a atividade sexual propriamente dita, mas não se restringe a ela, e sua vivência saudável é parte importante da saúde integral e qualidade de vida dos indivíduos.

Na avaliação das pesquisadoras, a compreensão do modo como as mulheres em tratamento de hemodiálise vivenciam a sexualidade é essencial para oferecer um cuidado mais amplo, individualizado e sensível. A ausência de diálogo sobre o tema entre pacientes e profissionais de saúde é uma realidade apontada pelas pesquisadoras: “É visto dentro da pesquisa o quanto não se tem espaço para falar sobre sexualidade. Os profissionais de saúde não abordam e não sabem, muitas vezes, lidar com essas temáticas”, explica Imhof. Na avaliação de Luana Gabriele Nilson, orientadora do estudo, os profissionais de saúde podem assumir papel importante nesse processo. “É uma temática que precisa estar incluída nos protocolos de atenção, nos roteiros de entrevistas. Não que um protocolo possa dar conta de tudo, mas que seja um convite a ouvir”, ressalta.

 

FURB Pesquisa

 

O trabalho foi tema do programa FURB Pesquisa desta semana: