Testemunho dos alunos sobre as aulas remotas
Por CMC/Marco Aurélio (estagiário de Jornalismo) [17/04/2020] [15 h26]
O mundo inteiro refugiou-se dentro de casa. Por cautela, medo, mas principalmente por necessidade e responsabilidade. Uma rara pandemia com causas e consequências que ensinam sobre isolamento, sobre o social. Na Universidade Regional de Blumenau (FURB) completa-se um mês de aulas adaptadas em tempo recorde à mediação tecnológica.
Ambientes comerciais fechados, ruas esvaziadas e universitários estudando pela internet. Ainda bem que a tecnologia permitiu que as aulas não fossem suspensas!
Não é fácil amanhecer e não sair pelos portões para enfrentar o trânsito, fila de carros no estacionamento, campus repleto de universitários a caminho das salas de aula e os servidores tomando rumo dos seus trabalhos.
Nesses tempos de quarentena é provável que alguns alunos sequer levantem cedinho da cama. No horário em que deveriam estar se arrumando, estão dormindo mais meia horinha. Na hora de começar a aula, sentados na cama e apoiados no travesseiro com o notebook, com a turma e professores aconchegados no colo, pela tela de computador. Bom, pelo menos vi alguns assim em fotos postadas nas redes sociais. 😊
É estranho passar uma tarde sem ver os alunos de Medicina jogando tênis de mesa no corredor do bloco S, no intervalo das classes, sem ouvir aquela algaravia de monitores trabalhando e estudando enquanto vivem a universidade e, claro, sem sentir energia do pessoal da Escola Técnica do Vale do Itajaí (ETEVI) e de toda comunidade que desfruta do complexo esportivo, seja para ter aulas ou só aproveitando os espaços para encontrar os amigos.
Imagino com tristeza o fim de tarde chegando sem os alunos do período noturno percorrendo os corredores, esperando a hora da aula após um longo dia de trabalho, que é a condição de grande parte dos universitários da FURB. Sinto falta da fila na frente do elevador do bloco I, do pessoal sentado nos bancos conversando e das cantinas lotadas durante o intervalo.
Mas tudo tem seu lado bom. Fiquei sabendo que agora alguns acadêmicos aproveitam pra tomar banho no intervalo. Pelas redes sociais vejo gente sentada na frente do computador tirando foto do professor e dos colegas que deixaram a webcam ligada, com suas xícaras de café na mesa e gostosos lanchinhos saboreados durante a aula.
É um misto de clima de férias com muitas atividades de estudo, uma experiência inédita. Aulas adaptadas, um jeito diferente de estudar. Mas que divide opiniões. Para muitos, nada como estudar em uma sala de aula com os colegas ao redor e um professor em frente ao quadro explicando a matéria, interagindo presencialmente.
Uns sentem falta dos laboratórios, outros do professor sentado ao lado, ajudando nas atividades, em tarefas complexas como os famosos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC). Tem gente que não consegue focar na aula, mas também tem quem ateste que o foco melhorou assim.
Algumas situações fazem a galera se divertir, como aquele amigo que esquece de mutar o microfone e assim se descobre que ele estava jogando videogame durante a aula, ou tem um irmãozinho que assusta com gritos de fundo.
Experiências que só uma quarentena consegue proporcionar. Há quem aprenda até a arrumar a cortina do apartamento ou aproveite para conhecer melhor a vida dos seus gatos. Nada como um tempinho diferente para começar um projeto novo, passar mais momentos com a família. São coisas que, querendo ou não, ocupam a mente e ajudam a passar por essa.
Fico só imaginando como vai ser quando tudo voltar ao “normal”. Pessoal de máscara pelos corredores, usando o álcool gel em mais displays do que antes da pandemia pelos blocos e os simpáticos cumprimentando pelo cotovelo.
Estamos todos passando por tempos difíceis, cada um com sua adaptação e necessidade. Mas podemos aproveitar esse tempo para refletir como é valiosa a liberdade. Se todos tiverem cautela e seguirem as recomendações de saúde, logo estaremos de volta à rotina que tanto amamos e odiamos, com as aulas presenciais, as apresentações na frente da turma e as brincadeiras e conversas com os amigos. E, melhor ainda, com a movimentação pelos campi da FURB e vivendo uma universidade de verdade, que preza pela Ciência.
Colegas falam da experiência
Para Samara Luísa Sasse, aluna do curso de Farmácia, a quarentena abriu espaço para cuidar de si, conseguindo mais tempo para focar nos estudos: “a quarentena está sendo boa pra mim, principalmente por não estar trabalhando, o que me ocupava muito tempo. Eu particularmente gosto mais das aulas online, mas estar nos laboratórios faz bastante falta”.
Um problema comum é a mudança ou até a falta de rotina, porém o aluno de Arquitetura e Urbanismo, Bruno Luiz Cardoso, entende que vale a pena: “a parte mais complicada da quarentena é não conseguir praticar exercícios, como correr e jogar futebol, mas como é por um bem maior, se torna tranquilamente suportável.”
Para uns a adaptação chega a ser tranquila, mas sempre com um porém: “é uma mudança bem abrupta na rotina, mas já me adaptei. Acabo tendo mais conforto, embora sinta falta do convívio com as pessoas”, disse Victor Hugo Garcia, do curso de Direito.
“Pra mim tá ótimo, meu foco melhorou bastante”, disse Anuska Kepler, do curso de Ciências da Computação. Já Gabriel Volanski, do curso de Música, comenta que “está sendo ruim pela falta de contato com os professores. Nessa quarentena o desafio se torna muito mais difícil” , considerou, completando: “uma coisa é certa, não tem nada melhor que estudar em uma sala de aula”.
Para quem está na reta final de curso ou tem bastante atividade prática, a distância tem dificultado. “Para algumas matérias até está sendo bom, mas para outras nem tanto. Estou fazendo pré-TCC, projeto, tenho aula de vídeo, então sinto a falta dos laboratórios e de estar com os professores do lado”, disse Ana Luiza Amorim, do curso de Publicidade e Propaganda. “Acho que o essencial nessa quarentena é criar uma rotina, conseguir se organizar. Isso é o mais importante para conseguir dar conta de fazer tudo”, completou.
Ana se diverte com alguns fatos inusitados: “o pessoal esquece o microfone ligado e comete algumas gafes”. A experiência também serve para novos aprendizados, como aconteceu com Samara, de Farmácia: “aprendi a consertar umas coisas de casa, arrumei minha cortina e também aprendi muito sobre a vida felina dos meus gatos”.
Esse isolamento social foi necessário, está cheio de lados ruins, sendo o principal a pandemia que nos obriga a ficar em casa. Mas ao mesmo tempo a quarentena gera uma experiência inédita na vida dos acadêmicos e com certeza serão histórias para contar no futuro. Se puder, fique em casa, se cuide e siga as recomendações de saúde e da ciência.