Jornalista britânico explica código de conduta da mídia
Por Central Multimídia de Conteúdo/Jornalismo [19/06/2019] [18 h13]
Regulação da Mídia no Reino Unido. Esse foi um dos temas compartilhados por dois pesquisadores do Curso de Jornalismo da Universidade de Derby, da Inglaterra, que visitaram a Universidade Regional de Blumenau nos dias 17, 18 e 19 de junho, por meio de uma ação internacional de mobilidade acadêmica, financiada pela British Academy.
A palestra principal dos três dias de trabalhos na FURB foi presidida pelo jornalista Keith Perch. Com mais de 30 anos de atuação nos principais jornais impressos do Reino Unido, tendo liderado negócios digitais no grupo Daily Mail, hoje atua como coordenador do curso de Jornalismo da Universidade de Derby, além de integrar a Independent Press Standards Organization (Ipso), um órgão responsável pela fiscalização da conduta dos jornais e revistas associados, numa espécie de auto-regulação.
A regulamentação dos padrões de imprensa do Reino Unido é baseada em um código de conduta, estudado em Derby, que permite analisar práticas antiéticas de jornais e revistas. São 16 artigos com prioridade a privacidade e precisão. É possível tomar partido em uma matéria ou reportagem, desde que ela continue sendo fiel aos fatos.
O código também contempla tópicos como o direito da fonte de negar respostas, intromissão do jornalista em momentos de luto, cobertura de suicídios, exposição de crianças em estado de violência ou não, cobertura de crimes, utilização de dispositivos de disfarce, vítimas de violência sexual ou discriminação, uso de informações sobre áreas da economia para benefício próprio, preservação da identidade de fontes confidenciais e suborno em processos criminais.
Apesar da não obrigatoriedade dos veículos de comunicação em participar da Organização Independente de Regulamentação dos Padrões de Imprensa, mais de 150 jornais e revistas impressos e 250 online do Reino Unido, incluindo tabloides, são associados à organização e se comprometem com o código de conduta.
Em 2017 a organização recebeu mais de 20 mil reclamações, mas apenas 180 foram julgadas. Segundo Keith Perch, isso aconteceu porque a maior parte das queixas não eram referentes a uma quebra do código de conduta. Nos casos mais simples o órgão pode exigir correção do material publicado ou a publicação de um pedido de desculpas. Para as falhas mais graves e recorrentes, a organização pode aplicar uma multa de até 1 milhão de libras, o equivalente a 5 milhões de reais.
A auto-regulamentação, assinala o jornalista, enfrenta grandes desafios. Um deles é a instabilidade política e a mudança de partidos no governo que poderiam impor uma regulamentação estatal, o que na opinião de Keith não é válido, já que os governantes poderiam agir em interesse próprio. Outro desafio é a falta de regulamentação na internet. Mesmo que um veículo de comunicação siga o código de conduta e não publique notícias com informações prejudiciais ao bem-estar social, como detalhes de um suicídio, essas mesmas informações podem ser divulgadas na internet.
Perch veio ao Brasil acompanhado da jornalista blumenauense Ivana Ebel, atualmente docente e pesquisadora em Derby. Juntamente com a jornalista Gabrielle Bittelbrun propôs e teve aprovação do projeto de pesquisa “Cross cultural feminism: race, gender and body representation in mainstream and alternative magazines in Brazil and in the United Kindom” pela Britisch Acadmy. Bittelbrun lecionou a disciplina Mídia Regional no Curso de Jornalismo da FURB em 2018.