Pacientes relatam reestabelecimento da autonomia e satisfação com a forma de cuidado adotada pelo serviço

Pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Regional de Blumenau (PPGSC/FURB) avaliou a percepção dos usuários do Centro Regional Interprofissional Especializado Pós-Covid (CRIE) mantido pela FURB. A retomada da autonomia por parte dos sujeitos pesquisados e a satisfação em relação à condução do processo de cuidado realizado pelo serviço estão entre os principais resultados obtidos pela pesquisa. O estudo foi conduzido pela pesquisadora Luciana Rulenski, mestre em Saúde Coletiva, sob orientação da professora Luciana Bisio Mattos, Doutora em Ciências da Saúde.

Ainda que cada sujeito tenha vivenciado experiências únicas, dois aspectos são comuns aos relatos dos pacientes: os traumas vividos durante o período em que estiveram na fase aguda da doença, que resultaram em questões psicológicas como ansiedade e depressão; e a retomada da autonomia a partir do acompanhamento realizado pelo serviço especializado pós-covid. “Através dos relatos, é possível perceber que o serviço mudou muito a vida deles. Eles chegaram muito debilitados e o serviço trouxe a autonomia. Muitos se queixaram estar há muito tempo com essa condição, alguns há mais de dois anos”, enfatiza a pesquisadora.

Na avaliação da pesquisadora, a atenção integral e multiprofissional é um diferencial importante do cuidado promovido pelo CRIE que deve ser replicado por outros serviços de saúde. Ao longo do processo de pesquisa, Rulenski identificou que a maior parte dos serviços de reabilitação pós-Covid existentes na América Latina conta apenas com fisioterapeutas. Ainda que os atendimentos fisioterapêuticos sejam a principal demanda atual do CRIE, as queixas trazidas pelos pacientes exigem um olhar multiprofissional. “Os setores conversam entre si sobre o tratamento desse usuário. O profissional tem autonomia para encaminhar para outras demandas. O nutricionista tem autonomia para encaminhar para o neurologista ou para o psicólogo, por exemplo, e eles conversam entre si em reuniões semanais”, explica a pesquisadora.

A condição pós-Covid, também conhecida como Covid longa ou Covid persistente, é um conjunto de sinais e sintomas que se prolongam por mais de três meses após a infecção pelo vírus causador da Covid-19. Estima-se que 65 milhões de pessoas no mundo enfrentem a condição pós-Covid, embora grande parte não tenha consciência disso. A pesquisadora alerta para o fato de que indivíduos que tiveram formas leves da doença também podem ser acometidos por essa condição. Fadiga extrema, tosse seca, perda de memória, alteração de paladar e olfato, unhas fracas e queda de cabelo intensa estão entre as principais queixas relatadas pelos pacientes atendidos no CRIE.

Como a pesquisa foi realizada

O estudo conduzido por Rulenski e Mattos consiste em uma pesquisa de abordagem qualitativa que emprega um método conhecido como cartografia, uma forma de mapear uma determinada realidade a partir da imersão no campo de pesquisa e da conexão entre o pesquisador e os sujeitos pesquisados. O estudo foi realizado a partir da formação de um pequeno grupo de oito pacientes selecionados pela pesquisadora de acordo com alguns critérios, tais como a participação em pelo menos dois grupos terapêuticos ou atendimentos especializados oferecidos pelo CRIE. Além da análise dos prontuários de cada um deles, a pesquisadora realizou duas oficinas, que foram gravadas, transcritas e posteriormente analisadas. Na primeira dessas oficinas, os participantes foram convidados a produzir fotografias que representassem o processo de cuidado recebido por eles no serviço. O segundo encontro foi dedicado ao diálogo entre os participantes, momento em que puderam compartilhar relatos sobre o processo de doença e de cuidado.

FURB Pesquisa

O estudo foi tema do programa FURB Pesquisa desta semana: