Abelhas Jataí demonstram potencial para meliponicultura urbana, revela Pesquisa FURB

Abelhas Jataí demonstram potencial para meliponicultura urbana, revela Pesquisa FURB

Foto: RTE FURB

Estudo comparou o desenvolvimento de colônias em área urbana e florestal

 

Um estudo desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal da Universidade Regional de Blumenau (PPGEF/FURB) concluiu que colônias de abelhas Jataí (Tetragonisca angustula) são capazes de se desenvolver e produzir mel em ambiente urbano. O estudo foi conduzido pelo pesquisador Edier Rodrigo de Andrade, Mestre em Engenharia Florestal, sob orientação do professor Ricardo Bittencourt, Doutor em Recursos Genéticos Vegetais. A expectativa dos pesquisadores é que estudos como este possam subsidiar políticas públicas de fomento à meliponicultura e promoção da biodiversidade urbana.

Andrade, que atua como meliponicultor há 12 anos, encontrou no Mestrado em Engenharia Florestal da FURB uma oportunidade de produzir conhecimento útil ao fomento da meliponicultura. A pesquisa conduzida por ele nasceu a partir do interesse em identificar uma espécie de abelha apta para meliponários instalados em áreas urbanas. “O objetivo foi comprovar que ela realmente pode ser criada em perímetro urbano, sem precisar dar suporte alimentar, e que elas têm condições de se desenvolver e produzir mel”, explica.

O estudo comparou o desenvolvimento e a produtividade de colônias de abelhas Jataí instaladas em ambientes urbanos e em áreas de floresta nativa conservada. As colônias foram acompanhadas durante 14 meses e não receberam qualquer tipo de suplementação. Tanto as colônias instaladas em área de floresta quanto as colônias das áreas urbanas foram capazes de se desenvolver, ganhando peso, número de indivíduos e produzindo mel excedente. As colônias urbanas apresentaram populações quase equivalentes às colônias florestais (cerca de 5 mil indivíduos por colônia), o que mostra que a espécie consegue manter sua estrutura populacional mesmo com menor diversidade floral.

As colônias em área florestal, no entanto, conseguiram ganhar mais peso e produzir maiores quantidades de mel, por possuírem mais recursos à disposição. Apesar disso, o pesquisador considera que as abelhas criadas em área urbana também apresentaram bons resultados. “Além de conseguir dar suporte e recurso suficiente para ter uma população saudável, ela ainda conseguiu ter uma produção de mel. Menor do que na área de floresta, mas conseguiu produzir”, explica.

O pesquisador investigou, também, as características físico-químicas do mel produzido pelas colônias. Neste experimento, apenas o mel produzido pelas abelhas criadas nas áreas de floresta atingiu todos os parâmetros estabelecidos pela norma estadual. O mel produzido pelas abelhas urbanas não atendeu à normativa quanto ao teor mínimo de açúcares redutores, o que impediria sua comercialização. “O que causou essa diferença foi a composição florística da área urbana. A abelha Jataí, por ser generalista, vai também nas flores exóticas, oriundas do paisagismo e da arborização urbana. Esse néctar provavelmente tinha uma quantidade de açúcares redutores mais baixo. Isso não impede o consumo humano desse mel, mas impede a comercialização”, explica. O pesquisador ressalta que seriam necessários estudos mais aprofundados (em épocas, pontos e amostragens diferentes) para que se possa afirmar de forma categórica que o mel urbano não atende a legislação.

A abelha Jataí foi escolhida para o estudo por já estar amplamente distribuída em áreas urbanas e ter hábitos generalistas de forrageamento (processo pelo qual as abelhas coletam néctar, pólen, água e resina para levar à colmeia). Trata-se de uma abelha nativa, sem ferrão, de pequeno porte e corpo alongado, com cerca de 5mm de comprimento. O mel produzido pela Jataí apresenta características valorizadas no mercado, sobretudo na alta gastronomia, por ser mais ácido e possuir notas florais, o que agrega valor ao produto e é fonte de renda para produtores.

 

Como o estudo foi realizado

 

O pesquisador instalou colônias de abelhas Jataí em três localidades urbanas (nos bairros Tribess, Escola Agrícola e Itoupava Seca, em Blumenau) e três localidades em áreas de floresta nativa conservada (nos bairros Itoupava Rega, em Blumenau, Braço Paula Ramos, em Massaranduba, e Belchior Baixo, em Gaspar). As colônias foram acompanhadas durante 14 meses (entre dezembro de 2023 e fevereiro de 2025), padronizadas quanto à idade e não receberam qualquer tipo de suplementação. Para realizar a análise comparativa, o pesquisador considerou critérios como ganho de peso, estimativa populacional, quantidade de mel produzido e características físico-químicas do mel.

 

Em expansão, meliponicultura alia importância econômica e ecológica

 

As abelhas nativas desempenham um papel fundamental na manutenção da biodiversidade. “Algumas plantas evoluíram com esses polinizadores e dependem exclusivamente deles para a polinização. Sem elas, a gente perderia uma gama de biodiversidade praticamente incalculável. Para se ter uma ideia, existem grupos de abelhas que trabalham mais em certos períodos do dia, então há flores que abrem só nesses períodos. Outras têm as flores menores que só as abelhas de pequeno porte conseguem acessar o néctar e, consequentemente, fazer a polinização”, explica.

Além da importância ecológica, as abelhas nativas sem ferrão têm assumido importância econômica em Santa Catarina. Desde 2020, o Estado possui uma normatização específica para o mel das abelhas sem ferrão. A norma estabelece parâmetros a serem atingidos para que o mel esteja apto à comercialização. Para Andrade, a regulamentação é um avanço, mas pode ser aprimorada. “É uma norma genérica para todas as espécies. Um próximo passo seria talvez uma norma específica para grupos diferentes de abelhas, porque o mel de uma espécie para outra pode variar na quantidade de açúcares redutores, na acidez e no teor de umidade”, avalia.

 

FURB Pesquisa

 

O trabalho foi tema do programa FURB Pesquisa desta semana: