Estudante da FURB desenvolve protocolo para comunicação de más notícias na Medicina Veterinária
Por Camila Maurer [03/10/2025] [13 h50]
Método deve ser testado no Hospital Escola Veterinário da FURB
Um Trabalho de Conclusão de Curso defendido em junho deste ano na Graduação em Medicina Veterinária da Universidade Regional de Blumenau (FURB) resultou no desenvolvimento de um protocolo para a comunicação de más notícias na prática clínica veterinária. O trabalho foi desenvolvido pela estudante Ana Julia Schmidt Ostrowski sob orientação do professor Nicolau Cardoso Neto.
A ideia de pesquisar o tema surgiu a partir da experiência pessoal da estudante: ao acompanhar o sofrimento de uma tia ao precisar se despedir de um animal de estimação que a acompanhou por 14 anos, Ana Julia percebeu que a comunicação de notícias que podem gerar tristeza também faz parte do cotidiano dos médicos veterinários. “Acompanhei todo o processo de luto da minha tia e isso me fez pensar no tema. Na faculdade, a gente não fala muito sobre a morte dos pacientes e apoios psicológicos”, conta.
Ao iniciar o processo de pesquisa, a estudante identificou que existem muitos protocolos para a comunicação de más notícias na Medicina humana, mas nenhum suficientemente aprofundado e amplamente disseminado na área da Medicina Veterinária. “A gente enfrentou um problema que é a pouca informação. Apesar de ser um tema importante tanto para a medicina humana quanto para a medicina veterinária, não é tão tradicional a pesquisa desse tipo de informação. O luto até é bastante pesquisado, mas a forma pela qual vamos passar a informação do diagnóstico do animal para tratamento é algo pouco pesquisado”, destaca o orientador do trabalho.
A partir dessa constatação, a estudante desenvolveu uma proposta de protocolo voltado especificamente à Medicina Veterinária, por meio da adaptação do chamado protocolo Spikes, metodologia utilizada para comunicação de más notícias na Medicina Humana. A proposta de protocolo desenvolvida pela estudante inclui aspectos como o preparo do ambiente e do profissional para a conversa com o tutor, a avaliação da percepção do tutor sobre o caso do animal, a comunicação da notícia, a resposta à emoção do tutor e o planejamento das ações a serem tomadas. “Já vai ser uma conversa difícil, o profissional tem que manter uma postura ética, formal, mas precisa transmitir a notícia de modo que o tutor entenda o que precisa e pode ser feito para ajudar esse animal”, explica.
Thiago Neves Batista, professor do Departamento de Medicina Veterinária e chefe do Hospital Escola Veterinário (HEV) da FURB, avalia que a comunicação de más notícias é um dos maiores desafios da prática clínica de pequenos animais, já que os laços afetivos entre tutores e seus pets têm se tornado cada vez mais fortes. “Fiquei maravilhado com os resultados que ela apresentou e o protocolo que ela propôs para a gente fazer logo uma validação aqui no Hospital Veterinário, justamente por essa necessidade que o profissional médico veterinário tem e pela carência de não saber muito bem como fazer esse processo de comunicação de más notícias de maneira clara e objetiva”, destaca Batista.