Novos saberes marcam rotina de mães e filhos na quarentena
Por Central Multimídia de Conteúdo/Jornalismo [08/05/2020] [22 h21]
Na Universidade Regional de Blumenau (FURB), que mantém atividades remotas e a maioria dos servidores trabalhando e os alunos estudando a partir de casa, diferentes olhares indicam uma mesma direção: ser mãe em tempos de pandemia traz desafios extras. Organizar a nova rotina da casa, redobrar cuidados de higiene, trabalhar ou ter aulas com um olho nas crianças e outro no computador. A sensação é que o tempo mudou de dimensão, mas continua escasso. A saudade aperta.
Por outro lado, a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento dos primeiros passos, o desempenho escolar, as pequenas conquistas do cotidiano também trazem sentimentos positivos. “O período é de adaptação e mudança para todo mundo” observa a professora do curso de Jornalismo, Clarissa Josgrilberg Pereira. Mãe de Giovani, de seis meses, ela vive o momento de retomar a rotina na Universidade, mas a partir de casa. “O desafiador agora é, acabando a licença maternidade, voltar ao trabalho, sabendo que posso estar ao vivo em uma aula com ele chorando de cólica no meu colo”, comenta Clarissa.
A preocupação é ainda maior porque o filho necessita de cuidados especiais em razão de um refluxo “violento”, como resume a mãe. “Ele passa a maior parte do tempo em pé, no meu colo, no bercinho fica por no máximo 30 minutos, que é o tempo que eu tenho para fazer alguma coisa. Nesse momento, de isolamento social, é complicado trazer alguém para ajudar em casa. O desafio de voltar a trabalhar vai ser enorme”.
A dupla jornada é compartilhada com o marido, que passa o dia no trabalho, fora de casa. A saudade da família é amenizada com o uso de tecnologias. “Não tem passeio de carrinho, não tem a socialização com outras pessoas, a família não vem visitar, não vê ele crescer”, constata.
Mas, tudo tem dois lados, lembra a professora e o tom de voz se alegra quando ela cita aspectos positivos, como poder acompanhar o desenvolvimento do bebê e adiar a separação, inevitável, com o fim da licença maternidade. “Ninguém escolheu esse cenário, mas ele mostra também o lado bom das pessoas, que estão tendo que se reinventar, que estão mais compreensivas, que entendem você estar em uma reunião, com um chorinho de bebê ao fundo” acredita Clarissa.
A servidora da Divisão de Administração de Materiais (DAM), Franciane Aline Froehlich, mãe de Bruno, de 11 meses, também encara o desafio de cuidar do filho e do trabalho ao mesmo tempo. “É desafiador conciliar tudo: a carreira, a casa, a pessoa. Mas também é maravilhoso ter essa oportunidade, por mais que o home office seja difícil, com um olho no notebook e outro no bebê”. Ela deixa as tarefas que exigem mais concentração para quando o marido está presente e dribla o isolamento com passeios pelo jardim de casa.
“Não tenho palavras para descrever o amor que sinto por esse serzinho de 11 meses, é um amor incondicional que parece não ter como crescer, mas conforme passa o tempo fica maior e maior. Tudo compensa, cada sorriso, descoberta, tchauzinho, beijinho, estar com ele é maravilhoso”, comemora Franciane.
Para a mãe de Miguel, de 1 ano e 8 meses, Marcia Lacerda, servidora na Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP/FURB), o período de quarentena e a possibilidade de conviver o dia todo com o filho é algo raríssimo e ao mesmo tempo gratificante, por mais desafiador que seja conciliar os papéis de profissional, mãe e dona de casa. Muitas vezes ela para o trabalho e brinca com o filho, “sei que este tempo não voltará”, comenta. E o Miguel por vezes participa do expediente, de reuniões e formações institucionais online.
“A curiosidade dele é enorme: quer ver tudo, quer tocar em tudo! Quando estou em reunião e ele acorda já vem para o meu colo colocar o fone de ouvido, querendo participar. Passa um tempinho e já vem convidar para brincar”. Quando vê, Marcia diz estar rodeada por carrinhos, envolvida na brincadeira.
“Porque mãe vem com essa qualidade, ser muitas em um só”, define a estudante de Jornalismo, Ingrid Leonel, mãe de Mateus, de dois anos. Natural de Belém do Pará, Ingrid divide a rotina entre os cuidados com o filho, as aulas remotas e as saudades da família. Diz que “se vira nos 30” e que ser mãe “é ser forte quando não há mais força, sorrir querendo chorar, mãe tem abraço acolhedor, mesmo se sentindo sozinha”.
A colega de curso, Fernanda Tenfen, mãe de Manuela, de um ano, diz que está difícil acompanhar as aulas remotas e que preferia estar presencialmente na Universidade; em casa tem dificuldades para se concentrar, mesmo quando não está responsável pelos cuidados com a filha. Ela também observa que, na rotina do isolamento, o tempo parece outro. “Segundo a minha percepção, parece que temos menos tempo ficando em casa o dia todo, do que quando estamos fora, porque, querendo ou não, a rotina ajuda a organizar o tempo e estando em casa o dia todo, fica mais difícil organizar e manter uma rotina”, observa.
Na casa da professora do curso de Publicidade e Propaganda, Cynthia Boos de Quadros, mãe de Isabela,12, Davi, 10 e Laura, 6, o tempo também ganhou outro significado. O que antes era “condicionado ao relógio, previsível e arquitetado”, agora flui em outro ritmo. “Todo mundo acordava já com a sua programação, sabendo como o dia ia começar e finalizar. Agora, tem dias mais pesados, mais difíceis e outros em que é preciso saber lidar com o ‘nada para fazer’, apesar de que as obrigações tenham aumentado, pois todos nós descobrimos novos papéis na dinâmica da casa. Também nos tornamos mais solidários, as crianças estão mais responsáveis pela existência do outro, mais companheiras”. Neste aprendizado reside a beleza deste momento, segundo a professora.
Outra dimensão que se confunde quando o trabalho ganha a sala de casa é a presença. “Tenho um filho de 11 anos que está com atividades escolares remotas, todos os dias o período da manhã é destinado a essas atividades. Ele sempre teve facilidade para o aprendizado e autonomia nos estudos, mas gosta muito de estar com os amigos e não quer ficar sozinho, isso faz com que durante as atividades sempre solicite nossa presença, até porque precisamos acompanhar seu aprendizado. No início do isolamento, muitas vezes, ele confundia minha presença física com a disponibilidade para acompanhá-lo nos estudos, o que infelizmente não é possível, devido às reuniões que tenho durante todo o dia e os encaminhamentos necessários”, descreve a reitora da Universidade Regional de Blumenau, Márcia Sarda Espíndola.
O papel de acompanhar o filho tem ficado com o marido de Marcia e embora não consiga participar como gostaria, a reitora conta que quando o filho conclui uma avaliação ou uma atividade, deixa tudo que está fazendo para vibrar com ele e comemorar as conquistas. “Também tenho tentado, quando ainda resta energia, fazer a janta, assistir um filme ou uma série e estar mais próxima a eles e assim nos fortalecemos”.