Pesquisa FURB revela aumento no índice de excesso de peso em adolescentes após a pandemia
Por Camila Maurer [04/07/2025] [15 h44]
Estudo foi realizado com 137 adolescentes de uma escola municipal de Blumenau um ano após o início da pandemia de Covid-19
Uma pesquisa de Mestrado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Regional de Blumenau (PPGSC/FURB) revelou aumento no índice de excesso de peso entre adolescentes matriculados em uma escola pública municipal de Blumenau um ano após o início da pandemia de Covid-19. O estudo investigou o estado nutricional de 137 adolescentes matriculados na Escola Municipal Henrique Alfarth, localizada no bairro Progresso, em Blumenau. A pesquisa foi conduzida por Jennifer Arielle Eissmann, Mestre em Saúde Coletiva, sob orientação da professora Luciane Coutinho de Azevedo, Doutora em Neurociências.
O estudo revelou que a proporção de adolescentes com excesso de peso (soma de sobrepeso e obesidade) passou de 32,1% em 2020 para 36,5% em 2021. A proporção de estudantes em eutrofia, isto é, em estado de normalidade do ponto de vista nutricional, baixou de 65,7% em 2020 para 59,9% em 2021. O Índice de Massa Corporal (IMC) apresentou aumentou em cerca de um terço dos participantes do estudo. As pesquisadoras também verificaram que menos da metade dos adolescentes pesquisados realizavam atividade física de forma regular. Fatores como mudança de rotina, isolamento social, alteração dos hábitos alimentares e menos acesso a práticas de atividade física durante o período inicial da pandemia podem ter contribuído para o cenário revelado pela pesquisa.
Além do aumento nos índices de excesso de peso, outro aspecto chamou a atenção das pesquisadoras: cerca de um terço dos estudantes que participaram do estudo registraram variação negativa no Índice de Massa Corporal. Os dados analisados revelaram relação entre essa variação negativa e o não recebimento dos kits de alimentação fornecidos pelas escolas públicas durante a pandemia. Apesar de os kits de alimentação estarem disponíveis para retirada na escola de forma semanal ou mensal, a depender do nível de perecibilidade dos alimentos fornecidos, uma parcela das famílias não retirou os alimentos e isso pode ter impactado de forma negativa o estado nutricional dos adolescentes.
Em abril de 2020, o governo federal determinou que a verba disponibilizada para a alimentação escolar continuaria sendo repassada desde que os municípios se articulassem para entregar às famílias kits de alimentação que pudessem garantir aos estudantes a alimentação à qual teriam acesso na escola. “Assim que foi definido, o município imediatamente começou a distribuir esses kits. As famílias buscavam se quisessem e o que percebemos foi que os adolescentes das famílias que não buscaram esse kit, apresentaram maiores chances de apresentar variação de peso negativa”, destaca.
Na avaliação das pesquisadoras, os dados reforçam a importância da alimentação fornecida pela escola, elaborada de modo a garantir o valor nutricional das refeições. A qualidade nutricional da alimentação escolar traz benefícios aos estudantes e constitui, em muitas oportunidades, a única refeição nutricionalmente balanceada à qual os estudantes terão acesso ao longo do dia. Azevedo ressalta a necessidade de incentivar as crianças e adolescentes a consumirem os alimentos que são oferecidos pelas escolas, para evitar que os estudantes recorram a alimentos industrializados ultraprocessados trazidos de casa.
O consumo de ultraprocessados é outro aspecto aos quais adolescentes e suas famílias devem estar atentos. Os atrativos de sabor, consistência, larga comercialização e valor econômico acessível fazem com que tais alimentos sejam amplamente consumidos por todas as faixas etárias, incluindo os adolescentes. “A maior parte dos ingredientes que existem nesses alimentos não vêm de alimentos naturais. Eles têm um acréscimo muito grande de aditivos químicos para melhorar o sabor e a consistência e esses aditivos não favorecem a saúde. Eles não têm valor nutricional que se compare ao alimento natural”, explica Azevedo
GECCIA/FURB investiga saúde de crianças e adolescentes de Blumenau
O estudo de Eissmann e Azevedo foi conduzido no âmbito do Grupo de Estudos em Condições Crônicas na Infância e Adolescência (GECCIA), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC/FURB). Além de investigar condições de saúde de crianças e adolescentes, o grupo realiza intervenções por meio da extensão universitária nas escolas municipais de Blumenau. A necessidade de compreender o modo como a pandemia afetou o estado nutricional dos estudantes foi levada aos pesquisadores do grupo pela própria escola e corrobora a importância da relação entre o ambiente acadêmico e a comunidade.
No início do ano letivo de 2020, os alunos foram pesados e medidos para avaliação periódica de estado nutricional, atividade que faz parte das ações do Programa Saúde na Escola, mantido pela administração municipal. Em março, as atividades presenciais na escola foram suspensas em decorrência da pandemia de Covid-19 e parcialmente retomadas no final do mesmo ano, alternando dias de atividades presenciais e remotas. No início do ano letivo de 2021, com o retorno às atividades presenciais, servidores da escola e da Unidade Básica de Saúde do bairro relataram às pesquisadoras a percepção de que os estudantes teriam registrado aumento de peso. “Como nessa escola ocorre a antropometria anual dos alunos, tínhamos dados disponíveis para verificar essa inquietação deles”, explica a pesquisadora Jennifer Eissmann. Além dos dados produzidos pelos profissionais do programa Saúde na Escola, as pesquisadoras aplicaram questionários que contemplavam aspectos socioeconômicos, hábitos alimentares e aspectos comportamentais, como a realização de refeições com a família e uso de eletrônicos durante as refeições.
FURB Pesquisa
O trabalho foi tema do programa FURB Pesquisa desta semana: