Pasta de celulose criada por pesquisadores da FURB é produzida em larga escala em Luiz Alves (SC)
Por Camila Maurer [10/12/2024] [14 h44]
Produto destinado à hidrossemeadura permite recuperar a vegetação de encostas
No Vale do Itajaí, a interação entre produtores rurais, pesquisadores e indústria permitiu transformar um passivo ambiental em inovação. Pesquisadores da Universidade Regional de Blumenau (FURB) desenvolveram uma pasta mecânica de celulose a partir de cascas de palmeira real, um resíduo produzido diariamente em grande quantidade na região. O produto está sendo produzido pela empresa Biosemear, instalada em Luiz Alves (SC), e vem sendo comercializado como biomulch, um tipo de cobertura vegetal que favorece a revegetação de áreas degradadas.
Segundo o pesquisador Atilano Vegini, do Departamento de Engenharia Química da universidade, o biomulch produzido a partir de resíduos de palmito apresenta as características ideais para a hidrossemeadura, técnica de plantio que usa uma mistura líquida de sementes, nutrientes, fibras e estabilizantes para recuperar a vegetação em terrenos inclinados. “Quando se aplica o biomulch pelo processo de hidrossemeadura, cria-se uma biomanta que protege o solo, evitando a erosão, acelerando a velocidade da água da chuva e prepara o solo para uma condição ideal de germinação”, explica José Carlos Drodowski, empresário responsável pela operação. O produto produzido a partir das bainhas de palmeira real é vendido a empresas que trabalham com a técnica de hidrossemeadura. O produto já foi empregado no processo de revegetação em áreas de encosta de cidades da região, como a Estrada da Rainha, em Balneário Camboriú.
O processo de produção do biomulch a partir das cascas de palmito começa com a coleta dos resíduos junto aos produtores. Ao chegar à indústria, o material passa por uma série de etapas até estar pronto para a comercialização. As cascas de palmito precisam ser picadas e ter suas fibras separadas antes de passar por um processo de refinamento que confere ao material as características desejadas. Após o refinamento, é preciso retirar a água que foi adicionada ao longo da produção e iniciar o processo de secagem, para enfim acondicionar o material na embalagem comercial. Atualmente, a fábrica processa cerca de 500 toneladas de cascas de palmito por mês, mas têm capacidade para absorver todo o resíduo gerado pelos produtores da região que chega a 2 mil toneladas mensais.
O processo de pesquisa que resultou no desenvolvimento da pasta de celulose hoje empregada como biomulch foi liderado pelos pesquisadores Atilano Vegini, Doutor em Engenharia Química, e Lorena Benathar Ballod Tavares, Doutora em Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica. A tecnologia desenvolvida pelos pesquisadores teve a patente concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) e é objeto de parceria entre a FURB e empresa Estrela Distribuidora de Derivados de Petróleo. A interação entre a universidade e investidores externos permitiu não apenas o desenvolvimento do produto, mas também a adaptação dos processos realizados nos laboratórios da universidade para uma escala industrial.