Pesquisa FURB avalia resiliência comunitária frente aos desastres em Rio do Sul, no Alto Vale
Por Camila Maurer [30/05/2025] [17 h23]
Estudo aponta desafios para a gestão de desastres no município e sugere soluções
Uma pesquisa de Mestrado desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade Regional de Blumenau (PPGDR/FURB) investigou os níveis de resiliência comunitária da população de Rio no Sul, no Alto Vale do Itajaí, frente aos desastres. O conceito diz respeito à capacidade de adaptação e recuperação de uma determinada comunidade após a ocorrência de um desastre. O estudo foi conduzido por Ivonei José Wilhelm, Mestre em Desenvolvimento Regional, sob orientação da professora Cristiane Mansur, Doutora em Ciências Humanas, e revelou que a resiliência comunitária da população do município diminui em situações de normalidade.
O pesquisador, que é geógrafo e atua como professor na Educação Básica do município, aplicou questionários junto à população de Rio do Sul em dois momentos distintos: o primeiro durante a grande enchente registrada entre outubro e novembro de 2023; o segundo entre os meses de junho e julho de 2024. Os questionários buscavam avaliar as três dimensões da resiliência: proativa, referente à percepção e compreensão da comunidade em relação à existência de ameaças socioambientais; reativa, alusiva à capacidade de reação e recuperação durante os desastres; e pós-ativa, caracterizada pelo aprendizado social a partir dos desastres e mobilização para mitigar novos riscos. Em cada um dos períodos de coleta de dados, o pesquisador obteve 300 questionários respondidos.
A análise das respostas e a comparação entre os resultados obtidos em cada um dos momentos investigados revelou que os índices de resiliência foram significativamente maiores durante o período de crise (a inundação de 2023) e registraram queda em 2024, ano sem eventos extremos no município. A conclusão indica que períodos de normalidade conduzem as pessoas ao esquecimento das condições de vulnerabilidade socioambiental do município. “Quanto maior o intervalo sem desastres em regiões que são propícias a isso, mais aumenta a curva de esquecimento: as pessoas acabam esquecendo do que passaram”, explica Wilhelm. A constatação indica que ações voltadas ao fomento da resiliência precisam ser fortalecidas, mesmo em situações de normalidade.
O pesquisador explica que a vulnerabilidade socioambiental do município decorre de uma combinação de fatores, entre os quais se destacam o processo de ocupação do espaço no entorno dos rios sem planejamento, desde a colonização da área que hoje corresponde ao município, e a degradação da vegetação às margens dos rios. A enchente registrada entre outubro e novembro de 2023 foi a segunda maior da história do município: mais de 20 mil pessoas foram diretamente atingidas em 22 bairros e cinco localidades rurais. Na avaliação do pesquisador, é preciso fomentar a compreensão sobre a vulnerabilidade socioambiental do município entre os moradores e treinar a sociedade para lidar com tais eventos, tendo em vista sua recorrência. “Quanto maiores os índices de resiliência, menor será o impacto financeiro, social e ambiental”.
Diante do cenário revelado pelo estudo, os pesquisadores elaboraram uma série de propostas para fomentar os índices de resiliência comunitária entre a população de Rio do Sul. Ações como educação ambiental nas escolas, campanhas de treinamento contínuas e criação de sistemas de alerta e comunicação acessíveis à população estão entre as soluções apontadas pelos pesquisadores. Wilhelm destaca, ainda, a necessidade de pensar propostas habitacionais seguras e planejamento urbano sustentável, sobretudo em áreas de maior risco.
Pesquisadores do PPGDR dedicam-se ao estudo da resiliência frente aos desastres há mais de uma década
O estudo de Wilhelm e Mansur integra o projeto “Desafios Escalares da Governança da Água no Brasil Frente as Mudanças Climáticas” que objetiva investigar e propor políticas públicas de governança da água para três territórios brasileiros - o Cariri paraibano (PB), o Alto Vale do Itajaí (SC) e Babaçulândia (TO) –, além de realizar um exercício comparativo em relação às realidades vivenciadas por Portugal, México e Inglaterra.
A análise da resiliência comunitária de Rio do Sul replica a metodologia adotada pelo pesquisador Bruno Mello para avaliação da resiliência comunitária em Brusque e Itajaí, tema do episódio 4 do FURB Pesquisa. Os estudos de ambos os pesquisadores são frutos do trabalho desenvolvido há mais de uma década pelo grupo de pesquisa “Análise Ambiental e Ecodesenvolvimento” para a compreensão da resiliência no âmbito da gestão de desastres. O grupo, que existe há mais de 20 anos no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional, é coordenado pela professora Cristiane Mansur e mantém parcerias com instituições brasileiras e estrangeiras.
FURB Pesquisa
O trabalho foi tema do programa FURB Pesquisa desta semana: