Pesquisa FURB avalia resiliência comunitária frente aos desastres em Rio do Sul, no Alto Vale

Pesquisa FURB avalia resiliência comunitária frente aos desastres em Rio do Sul, no Alto Vale

Foto: Arte: RTE FURB / Foto: Prefeitura de Rio do Sul

Estudo aponta desafios para a gestão de desastres no município e sugere soluções

 

Uma pesquisa de Mestrado desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade Regional de Blumenau (PPGDR/FURB) investigou os níveis de resiliência comunitária da população de Rio no Sul, no Alto Vale do Itajaí, frente aos desastres. O conceito diz respeito à capacidade de adaptação e recuperação de uma determinada comunidade após a ocorrência de um desastre. O estudo foi conduzido por Ivonei José Wilhelm, Mestre em Desenvolvimento Regional, sob orientação da professora Cristiane Mansur, Doutora em Ciências Humanas, e revelou que a resiliência comunitária da população do município diminui em situações de normalidade.

O pesquisador, que é geógrafo e atua como professor na Educação Básica do município, aplicou questionários junto à população de Rio do Sul em dois momentos distintos: o primeiro durante a grande enchente registrada entre outubro e novembro de 2023; o segundo entre os meses de junho e julho de 2024. Os questionários buscavam avaliar as três dimensões da resiliência: proativa, referente à percepção e compreensão da comunidade em relação à existência de ameaças socioambientais; reativa, alusiva à capacidade de reação e recuperação durante os desastres; e pós-ativa, caracterizada pelo aprendizado social a partir dos desastres e mobilização para mitigar novos riscos. Em cada um dos períodos de coleta de dados, o pesquisador obteve 300 questionários respondidos.

A análise das respostas e a comparação entre os resultados obtidos em cada um dos momentos investigados revelou que os índices de resiliência foram significativamente maiores durante o período de crise (a inundação de 2023) e registraram queda em 2024, ano sem eventos extremos no município. A conclusão indica que períodos de normalidade conduzem as pessoas ao esquecimento das condições de vulnerabilidade socioambiental do município. “Quanto maior o intervalo sem desastres em regiões que são propícias a isso, mais aumenta a curva de esquecimento: as pessoas acabam esquecendo do que passaram”, explica Wilhelm. A constatação indica que ações voltadas ao fomento da resiliência precisam ser fortalecidas, mesmo em situações de normalidade.

O pesquisador explica que a vulnerabilidade socioambiental do município decorre de uma combinação de fatores, entre os quais se destacam o processo de ocupação do espaço no entorno dos rios sem planejamento, desde a colonização da área que hoje corresponde ao município, e a degradação da vegetação às margens dos rios. A enchente registrada entre outubro e novembro de 2023 foi a segunda maior da história do município: mais de 20 mil pessoas foram diretamente atingidas em 22 bairros e cinco localidades rurais. Na avaliação do pesquisador, é preciso fomentar a compreensão sobre a vulnerabilidade socioambiental do município entre os moradores e treinar a sociedade para lidar com tais eventos, tendo em vista sua recorrência. “Quanto maiores os índices de resiliência, menor será o impacto financeiro, social e ambiental”.

Diante do cenário revelado pelo estudo, os pesquisadores elaboraram uma série de propostas para fomentar os índices de resiliência comunitária entre a população de Rio do Sul. Ações como educação ambiental nas escolas, campanhas de treinamento contínuas e criação de sistemas de alerta e comunicação acessíveis à população estão entre as soluções apontadas pelos pesquisadores. Wilhelm destaca, ainda, a necessidade de pensar propostas habitacionais seguras e planejamento urbano sustentável, sobretudo em áreas de maior risco.

 

Pesquisadores do PPGDR dedicam-se ao estudo da resiliência frente aos desastres há mais de uma década

 

O estudo de Wilhelm e Mansur integra o projeto “Desafios Escalares da Governança da Água no Brasil Frente as Mudanças Climáticas” que objetiva investigar e propor políticas públicas de governança da água para três territórios brasileiros - o Cariri paraibano (PB), o Alto Vale do Itajaí (SC) e Babaçulândia (TO) –, além de realizar um exercício comparativo em relação às realidades vivenciadas por Portugal, México e Inglaterra.

A análise da resiliência comunitária de Rio do Sul replica a metodologia adotada pelo pesquisador Bruno Mello para avaliação da resiliência comunitária em Brusque e Itajaí, tema do episódio 4 do FURB Pesquisa. Os estudos de ambos os pesquisadores são frutos do trabalho desenvolvido há mais de uma década pelo grupo de pesquisa “Análise Ambiental e Ecodesenvolvimento” para a compreensão da resiliência no âmbito da gestão de desastres. O grupo, que existe há mais de 20 anos no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional, é coordenado pela professora Cristiane Mansur e mantém parcerias com instituições brasileiras e estrangeiras.

 

FURB Pesquisa

 

O trabalho foi tema do programa FURB Pesquisa desta semana: