Pesquisa FURB desenvolve maneira de conservar espécie rara de bromélia que existe apenas em Santa Catarina

Pesquisa FURB desenvolve maneira de conservar espécie rara de bromélia que existe apenas em Santa Catarina

Foto: RTE FURB

Planta ocorre apenas em pequeno trecho do Rio Hercílio, em Ibirama, e corre risco de extinção

 

Pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal da Universidade Regional de Blumenau (PPGEF/FURB) desenvolveu um protocolo de conservação em laboratório da planta Dyckia ibiramensis, um tipo de bromélia que existe apenas em um pequeno trecho do Rio Hercílio, em Ibirama (SC), e corre risco de extinção. O estudo foi conduzido pela bióloga Iasmin Tassi Grott, Mestre em Engenharia Florestal, sob orientação do professor Ricardo Bittencourt, Doutor em Recursos Genéticos Vegetais. O objetivo dos pesquisadores é fornecer condições de conservação da espécie, tendo em vista que existem poucos indivíduos remanescentes na natureza.

“A gente desenvolveu todo esse protocolo de conservação in vitro para tentar manter alguns indivíduos no nosso laboratório, no que a gente chama de banco de germoplasma”, explica Grott. A intenção dos pesquisadores é conservar a diversidade genética em laboratório para que se possa transferir alguns indivíduos para a natureza caso haja necessidade futura, impedindo a extinção da espécie.

O estudo conduzido por Grott e Bittencourt desenvolveu protocolos de conservação por meio das abordagens de micropropagação e criopreservação. Os protocolos são uma espécie de “receita” que expõe em detalhes as condições que a planta precisa para se desenvolver em laboratório. Grott explica que a técnica de micropropagação se assemelha ao ambiente fornecido pelo útero na reprodução humana: “eu tenho uma sementinha dentro de um frasco que tem tudo que ela precisa. Então a gente fornece a luz, uma temperatura muito boa, mantêm ela bem cuidada, ela não sofre com nada e vai se desenvolvendo ali dentro”. A micropropagação é considerada uma abordagem de curto prazo, pois o material pode ser mantido por cerca de um ou dois anos.

Os pesquisadores testaram, ainda, a abordagem da criopreservação, que permite o armazenamento por tempo indeterminado. Essa técnica consiste em manter as sementes em temperaturas muito baixas, colocando-as em nitrogênio líquido, a uma temperatura de 196 graus negativos. Ambas as técnicas empregadas apresentaram índices de germinação positivos. O material produzido a partir da pesquisa de Grott permanece conservado na universidade e pode ser posteriormente transferido ao ambiente natural.

A Dyckia ibiramensis é encontrada em um trecho de cerca de 1km do Rio Hercílio, em Ibirama. Trata-se de uma planta endêmica, não encontrada em outros lugares do mundo, que nasce nas fraturas de um tipo específico de rocha localizada no leito do rio. A construção de uma pequena central hidrelétrica em Ibirama há cerca de uma década, tornou ainda mais difíceis as condições de vida da planta e gerou alterações em todo o ecossistema do seu entorno. As enchentes que frequentemente atingem a região também desafiam a conservação da espécie. A população de Dyckia ibiramensis, que era de cerca de 4 mil indivíduos antes das enchentes de outubro e novembro de 2023 no Vale do Itajaí, caiu para apenas 2 mil, o que corrobora a percepção dos pesquisadores sobre o risco iminente de extinção da planta em ambiente natural.

Grott ressalta a importância de concentrar esforços na preservação de espécies ameaçadas, considerando a conexão entre todos os seres de um ecossistema: “Essas espécies, de alguma forma que não está bem elucidada ainda, oferecem vários serviços ecossistêmicos. Então, às vezes, a gente tem algum animal específico que só se alimenta daquela planta ou alguma abelha ou inseto polinizador que se utiliza daquela planta para sua sobrevivência. A gente que manter os esforços para conservar esses indivíduos vegetais para manter outros indivíduos, animais e afins, que estão ligados a eles. É tudo muito conectado, uma ação afeta a outra. E isso não cabe só à Dyckia, mas também a outras espécies, que fornecem outros serviços para o ecossistema”, enfatiza.

 

FURB Pesquisa

O estudo foi tema do programa FURB Pesquisa dessa semana: