Pesquisa FURB investiga fatores que determinam desigualdade de renda

Pesquisa FURB investiga fatores que determinam desigualdade de renda

Foto: RTE FURB

Um estudo desenvolvido na Graduação em Ciências Econômicas da Universidade Regional de Blumenau (FURB) investigou fatores determinantes para a desigualdade de renda no Brasil. O estudo foi conduzido pelos estudantes Sophia Michels Rodrigues, William Dumaszak e Adrian Patrick Leicht. A análise realizada pelos estudantes revelou que a carga tributária é a variável que melhor explica o Índice de Gini, uma medida amplamente utilizada para quantificar a concentração de renda entre uma população. O trabalho foi apresentado durante a 19ª Mostra Integrada de Ensino, Pesquisa, Extensão e Cultura (MIPE) realizada na universidade entre 16 e 18 de setembro, e foi o vencedor da terceira edição do Prêmio Lucia Sevegnani de Democratização do Conhecimento na categoria Graduação.

A pesquisa nasceu a partir de uma atividade desenvolvida na disciplina de Econometria, ministrada pelo professor Bruno Thiago Tomio. Para compreender os fatores que determinam a desigualdade de renda no Brasil, os estudantes desenvolveram um modelo econométrico de regressão linear, técnica estatística que permite analisar como diferentes variáveis explicam um fenômeno (neste caso, o Índice de Gini).

O Índice de Gini é uma medida que varia entre 0 e 1: quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade. No Brasil, a mensuração do índice é realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua). Atualmente, o país apresenta um índice de 0,54, o que o coloca entre os países mais desiguais do mundo. Para entender o que está por trás desse número, os estudantes coletaram dados de todos os estados brasileiros, incluindo variáveis como Produto Interno Bruto (PIB) estadual e per capita, escolaridade média da população, transferências de renda, carga tributária, entre outros aspectos. A pesquisa utilizou dados públicos coletados de fontes como IBGE, PNAD e Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária) relativos ao ano de 2022 em todos os estados do Brasil.

Entre as variáveis analisadas, a carga tributária foi a única que demonstrou significância estatística para explicar a desigualdade de renda. “A tributação no Brasil é regressiva e indireta, então as pessoas pagam pelo consumo. A pessoal que recebe 10 mil e a pessoa que recebe mil reais vão pagar o mesmo imposto, pois estão pagando pelo consumo. Isso contribui positivamente para uma maior desigualdade de renda do Brasil”, explica Rodrigues.

O resultado intrigou os pesquisadores, tendo em vista que a desigualdade é apresentada pela literatura como um problema multifatorial. “Já esperávamos que a maior significância estatística viria da tributação. Mas ficamos um pouco surpresos em relação às outras variáveis não terem demonstrado tanto efeito sobre a variável de Gini”, relata Dumaszak. Segundo os pesquisadores, esse resultado pode significar que o modelo econométrico desenvolvido por eles precisa ser aprimorado para captar melhor a complexidade do tema.

O estudo foi levado ao Encontro de Economia Catarinense, realizado em maio em Criciúma (SC), oportunidade em que os estudantes puderam discutir resultados e métodos com outros pesquisadores da área. “Surgiram novas variáveis que não tínhamos considerado anteriormente, a questão do saneamento básico e do acesso à saúde, por exemplo”, relata o estudante. Os aspectos apontados durante o evento devem ajudar os pesquisadores a aprimorarem o modelo a partir da ampliação da base de dados e inclusão de novas variáveis. “Foi uma experiência que agregou muito ao nosso conhecimento, saímos da zona de conforto, porque apresentamos para pessoas com quem não tínhamos contato. Foi com certeza algo que agregou muito ao nosso estudo e às nossas experiências acadêmicas”, avalia Rodrigues.

Além de apresentar o estudo em eventos científicos, os estudantes buscaram divulgar seus resultados para o público geral por meio de publicações em redes sociais utilizando linguagem simples. “O desenvolvimento do nosso artigo é bastante técnico, então uma pessoa que não tem um conhecimento prévio em econometria pode não entender. Então, a gente montou uma apresentação bem legal com a ajuda de uma graduanda em Design da FURB. A ajuda dela foi imprescindível para o sucesso dessa divulgação”, conta Rodrigues. Os esforços de divulgação renderam aos pesquisadores o primeiro lugar na categoria Graduação do III Prêmio Lucia Sevegnani de Democratização do Conhecimento, entregue no encerramento da 19ª MIPE.

Os pesquisadores reforçam que a desigualdade de renda é um problema estrutural que não pode ser resolvido de forma simples. A relevância da carga tributária no cenário identificado pelos pesquisadores corrobora a necessidade de políticas públicas que repensem o sistema tributário nacional, tendo em vista que a desigualdade de renda é um obstáculo para o desenvolvimento econômico sustentável do país. Uma das alternativas, segundo os pesquisadores, é a redução de impostos sobre itens básicos e o aumento de impostos progressivos, como o Imposto de Renda, além de reformas tributárias mais justas.

 

FURB Pesquisa

O trabalho foi tema do programa FURB Pesquisa dessa semana: