Pesquisa FURB revela como práticas educativas na natureza potencializam aprendizagem e desenvolvimento infantil
Por Camila Maurer [18/07/2025] [15 h59]
O processo de aprendizagem e desenvolvimento infantil na natureza foi o tema de uma pesquisa de Mestrado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências Naturais e Matemáticas da Universidade Regional de Blumenau (PPGECIM/FURB). Os resultados do estudo revelam a importância da interação das crianças em ambientes naturais para a aprendizagem e destacam o papel dos educadores na organização desse processo. O estudo foi conduzido pelo pesquisador Nando Matheus Rocha, Mestre em Ensino de Ciências Naturais e Matemáticas, sob orientação dos professores Keila Batista, Doutora em Patologia, e Edson Schroeder, Doutor em Educação Científica e Tecnológica.
Para entender como as crianças aprendem na natureza, o pesquisador realizou nove encontros interativos com um grupo de 28 crianças que cursavam o 4º ano do Ensino Fundamental na Escola Básica Municipal Visconde de Taunay, na Itoupava Central, em Blumenau. Ao longo dos encontros, as crianças participaram de atividades mediadas pelo pesquisador em um bosque que integra a área da escola. “Comecei essa trajetória observando o que as crianças já sabiam e já faziam naquele bosque. Propus atividades e observei o que foi mudando nessas crianças”, explica. As atividades realizadas durante os encontros envolveram práticas científicas e vivências sobre temas como cadeia alimentar e o estudo dos artrópodes.
A posterior análise do conteúdo em áudio proveniente dos encontros evidenciou que, a partir da intervenção, as crianças aprenderam conceitos científicos que levaram a mudanças no seu comportamento em relação ao ambiente, além de desenvolverem vínculos afetivos e cognitivos com a natureza. “Quando a gente percebe essas mudanças de comportamento das crianças, a gente percebe que elas também internalizaram as mudanças de objetivos. Elas não iam mais ao bosque só para brincar, agora elas tinham o objetivo de investigar, de conhecer, de descobrir. É isso que a gente também quer suscitar nos professores, porque as crianças são direcionadas pelos professores”, explica Keila Batista, orientadora do estudo.
A motivação de Rocha para estudar o tema nasceu a partir de experiências pessoais do pesquisador, que hoje atua como biólogo educador em projetos de educação ambiental. “Sempre tive uma relação muito próxima com a natureza desde a infância. Tenho um irmão gêmeo e a gente vivia muitas aventuras na praia, escorregando em barrancos. Meus pais sempre nos mostravam bichinhos e plantas. Uma coisa muito marcante é que o meu pai gostava de pescar e às vezes ele pegava algum animal diferente. Minha mãe congelava esse animal e no retorno das aulas levava para a turma conhecer. De alguma forma, é o que eu faço hoje em dia também”, conta.
A partir do conhecimento construído pelo estudo, os pesquisadores objetivam ajudar outros educadores a trabalharem práticas educativas com crianças na natureza. “Cada criança aprende de uma maneira, então, na verdade, são as vivências que vão fazer com que ela aprenda. São áreas que a gente ainda precisa investigar bastante para poder comprovar essas mudanças. Os professores que estão nas escolas precisam entender como a criança realmente aprende para que eles possam inovar, mudar suas práticas”, destaca Batista.
Pesquisa gerou guia de práticas educativas na natureza; material está disponível gratuitamente
Além da dissertação, o processo de pesquisa gerou como produto educacional um ebook intitulado “Crianças e Natureza: aprendizagem e desenvolvimento infantil em ambientes naturais”. Na publicação, o pesquisador explica cada uma das seis dimensões constitutivas elaboradas ao longo do processo de pesquisa para ajudar os professores a planejarem e organizarem experiências em ambientes naturais: 1) o ambiente como forma de aprendizagem, especialmente na natureza; 2) O papel do professor como organizador do ambiente e promotor de experiências na natureza; 3) a vivência da natureza como produtora de intersubjetividades; 4) o desenvolvimento de vínculos afetivo-cognitivos como dimensão psicológico-pedagógica; 5) a formação de conceitos científicos na relação orientada na natureza; 6) a cultura científica nas brincadeiras em ambientes naturais.
O livro garantiu ao pesquisador o segundo lugar na categoria “Mestrando Inovador” no Prêmio Inovação Catarinense, promovido pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (Fapesc) em novembro de 2024. A publicação está disponível gratuitamente neste link.
FURB Pesquisa
O trabalho foi tema do programa FURB Pesquisa desta semana: