Pesquisa FURB revela panorama da verticalização das cidades brasileiras
Por Camila Maurer [16/04/2025] [17 h20]
Entre as 10 cidades com maior concentração de apartamentos no Brasil, quatro ficam em Santa Catarina
Uma pesquisa desenvolvida no âmbito do Núcleo de Estudos Urbanos Regionais (NEUR) e do Núcleo de Estudos da Tecnociência (NET) da Universidade Regional de Blumenau (FURB) revelou o panorama da verticalização das cidades brasileiras e identificou desafios e tendências desse fenômeno no país. O estudo foi conduzido pelo pesquisador Leandro Ludwig, Doutor em Desenvolvimento Regional e professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da FURB. A pesquisa revelou que a verticalização brasileira se concentra, sobretudo, na faixa litorânea. Santa Catarina é destaque nesse cenário, com o maior crescimento proporcional da verticalização no Brasil nos últimos 20 anos. Entre as 10 cidades com maior concentração de apartamentos no Brasil, quatro ficam no Estado: Balneário Camboriú, Itapema, São José e Florianópolis. O estudo deu origem ao livro “Cidades Verticais: dinâmicas, tendências e desafios da verticalização das cidades brasileiras no período de 2000 a 2022”, lançado em março.
A pesquisa tem caráter inédito e busca preencher uma lacuna identificada pelos pesquisadores vinculados ao Núcleo de Estudos Urbanos Regionais (NEUR/FURB) durante o processo de elaboração de Planos Diretores. Ainda que haja estudos sobre o nível de verticalização de muitas cidades brasileiras, a diversidade de metodologias utilizadas tornava difícil a realização de análises comparativas. “A grande ideia que essa pesquisa capta e consolida é entender a verticalização como fenômeno de concentração de apartamentos. Quanto maior a concentração de apartamentos, maior a tendência de verticalização. Com isso, a gente consegue não só captar a dinâmica e a intensidade da verticalização, mas também correlacionar com vários outros dados, pesquisas e informações muito sólidas do IBGE”.
O estudo analisou dados sobre a concentração de apartamentos nas mais de 5 mil cidades brasileiras coletados a partir dos três últimos Censos Demográficos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A análise revelou que a verticalização no Brasil é um fenômeno concentrado nas regiões Sul e Sudeste, sobretudo na faixa litorânea. A maior parte dos municípios brasileiros (cerca de 4.800) não apresentam verticalização expressiva. De todos os domicílios do Brasil, apenas 15% são apartamentos, número que vem crescendo de forma significativa e concentrada nos últimos 20 anos, com base nas dinâmicas identificadas pelo estudo.
Verticalização se apresenta de forma peculiar em Santa Catarina
Balneário Camboriú é a segunda cidade mais vertical do Brasil, atrás apenas de Santos (SP) no ranking da verticalização, que considera a proporção de apartamentos em relação ao número total de domicílios. Entre as 10 primeiras posições, figuram outras três cidades catarinenses: São José, em sexto lugar; Florianópolis, em oitavo; e Itapema, na décima colocação. Cidades próximas como Jaraguá do Sul (27ª), Criciúma (29ª) e Blumenau (32º) também se destacam. Enquanto Balneário Camboriú mostra sinais de saturação, as demais ainda apresentam tendência de crescimento da verticalização.
Ludwig explica que a verticalização é normalmente associada a maior concentração urbana e ao crescimento demográfico. Em Santa Catarina, no entanto, o fenômeno apresenta características peculiares. “Entre todos os Estados, Santa Catarina teve o processo mais intenso de verticalização, com um incremento proporcional superior a todos os outros Estados, inclusive o Distrito Federal. Isso é interessante porque Santa Catarina não é o Estado que tem a maior concentração de área urbana e também não teve o maior crescimento demográfico. Então ele tem uma expressividade da verticalização estando desatrelado desses outros dois fenômenos que normalmente andam juntos”, destaca.
Verticalização impõe desafios ao planejamento urbano; salubridade e vitalidade urbana devem ser consideradas
Ludwig enfatiza a importância de estudar a verticalização sem ideias pré-concebidas, tendo em vista a complexidade do fenômeno. O pesquisador ressalta que a verticalização pode ser positiva quando está associada ao aumento da densidade, ou seja, o aumento no número de pessoas vivendo em uma determinada área. “Em geral, as cidades que são mais verticais são mais densas. E isso é bom porque quando a cidade tem uma densidade maior e tem mais pessoas ocupando uma área menor, todo o processo de infraestrutura e de gestão fica mais eficiente”, explica.
Ao mesmo tempo em que é capaz de resolver problemas públicos ao facilitar a gestão, a verticalização dissociada de planejamento urbano adequado pode resultar em problemas à cidade. A verticalização que não resulta em densidade – como nos edifícios de alto padrão com um ou dois apartamentos por andar – é considerada um problema. “Estudo recente do IBGE mostra que a partir de 2041 o Brasil vai alcançar o pico populacional e vai começar uma redução. O que acontece quando se produz uma verticalização muito intensa é que muitos dos apartamentos não serão ocupados, o que acaba criando uma bolha”, explica. O pesquisador enfatiza, ainda, que há um descompasso entre o déficit habitacional no Brasil e a oferta de moradia. “A gente tem um déficit de aproximadamente 6 milhões de domicílios, ou seja, faltam 6 milhões de casas para os brasileiros morarem. E o último Censo do IBGE trouxe que há 18 milhões de domicílios vagos ou de uso ocasional”, destaca.
A verticalização também é negativa quando não leva em consideração a salubridade do espaço urbano, sem os devidos recuos e com alturas que afetam a capacidade de insolação e ventilação. Além dos aspectos climáticos, o pesquisador alerta para os impactos nas relações das pessoas com a cidade. Edifícios muito altos que possuem vários pavimentos de garagem em sua base, por exemplo, tendem a romper a relação dos moradores com a rua, implicando em perda do que os urbanistas chamam de vitalidade urbana. “Quando a edificação perde relação com a rua é um problema, seja ela vertical ou não. E a gente sabe que quanto maior a intensidade da verticalização na edificação, maior a tendência de ela perder relação com a rua”, avalia.
Além de terem sido publicados em livro, parte dos dados da pesquisa estão publicamente disponíveis em uma plataforma digital que apresenta mapas interativos e um ranking que agrega informações sobre o estágio da verticalização em todos os municípios brasileiros.
FURB Pesquisa
O trabalho é tema do programa FURB Pesquisa nesta sexta-feira (16) no canal Youtube da FURB, a partir das 15h.