Pesquisa FURB revela perfil clínico e epidemiológico de pacientes com AVC isquêmico

Pesquisa FURB revela perfil clínico e epidemiológico de pacientes com AVC isquêmico

Foto: RTE FURB

Prevalência do gênero masculino e presença de hipertensão arterial estão entre os principais achados

 

Um estudo conduzido pelo grupo de pesquisa em Neurocirurgia Endovascular da Universidade Regional de Blumenau (FURB) traçou o perfil epidemiológico de pacientes que apresentaram Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs) isquêmicos atendidos no serviço de referência em Neurocirurgia do Hospital Santa Isabel, em Blumenau. A presença de comorbidades, como hipertensão e tabagismo, está entre os principais achados do estudo, orientado pelo professor Leandro Haas, coordenador do curso de Medicina da FURB e líder do grupo de pesquisa. A amostra contemplou 40 pacientes atendidos entre agosto de 2020 e dezembro de 2023. O estudo foi apresentado durante a 18ª edição da Mostra Integrada de Pesquisa, Ensino, Extensão e Cultura realizada na universidade entre 16 e 19 de setembro.

Os AVCs são alterações do fluxo sanguíneo no interior do cérebro e subdividem-se em duas categorias: os AVCs hemorrágicos, mais graves e menos comuns, caracterizados pela ruptura de vasos sanguíneos no interior do cérebro, e os AVCs isquêmicos, objeto de estudo dos pesquisadores, que ocorrem quando há obstrução do fluxo sanguíneo em uma determinada região cerebral e correspondem a cerca de 80% dos casos. “A cada segundo, uma pessoa no mundo está sofrendo um AVC”, alerta Haas. De acordo com o pesquisador, medidas como o controle da pressão arterial e o abandono do tabagismo podem evitar grande parte dos casos.

O estudo conduzido pelo grupo revelou que a artéria cerebral média foi a mais afetada nos casos investigados, o que afeta diretamente os sintomas apresentados pelos pacientes ao dar entrada no hospital: a afasia, ou seja, a perda total ou parcial da capacidade de falar, foi o sintoma mais prevalente, apresentado por 82,5% dos pacientes investigados. Sintomas como déficit motor (67%), alteração do nível de consciência (32,5%) e dor de cabeça (12,5%) também estão entre os achados. De acordo com os pesquisadores, tais sintomas são alertas que não devem ser ignorados, já que o tempo entre a ocorrência do AVC e o atendimento médico é determinante para evitar sequelas. Amanda Derlam, estudante da última fase do curso de Medicina e integrante do grupo de pesquisa explica que os pacientes atendidos em até quatro horas e meia possuem maiores chances de recuperação. “Nem sempre o paciente chega nessas condições, infelizmente, seja por não identificar os sintomas, por estar muito distante ou, às vezes, pela demora no diagnóstico”, relata.

O estudo revelou, ainda, a efetividade da chamada trombectomia mecânica no tratamento de AVCs isquêmicos. A técnica consiste em inserir um catéter para conduzir um dispositivo até o vaso sanguíneo obstruído e retirar o coágulo responsável pela obstrução, reestabelecendo o fluxo sanguíneo da região afetada. Trata-se de uma técnica endovascular, isto é, um procedimento realizado por dentro dos vasos sanguíneos. Haas explica que as técnicas endovasculares apresentam como principal vantagem o fato de serem minimamente invasivas, o que resulta em menor taxa de complicações e menor tempo de recuperação.

 

Estreitamento de artéria é uma das causas de AVCs isquêmicos; condição pode ser tratada

Outra pesquisa conduzida pelo grupo dedicou-se ao estudo de casos de estenose crítica de artérias caróticas internas, condição caracterizada pelo estreitamento das artérias que levam o sangue ao cérebro causado pelo acúmulo de placas de gordura. Quando não tratada, a obstrução do fluxo sanguíneo ao cérebro pode resultar em AVCs isquêmicos. Os pesquisadores analisaram 241 casos de estenose submetidos a tratamento cirúrgico no Hospital Santa Isabel entre novembro de 2005 e dezembro de 2023. A alta presença de comorbidades como hipertensão, presente em mais de 90% dos casos, e altas taxas de gordura no sangue, apresentadas por mais de 80% dos pacientes, revelam a relação entre hábitos de estilo de vida e a saúde vascular. A maior parte dos pacientes investigados já havia apresentado AVCs isquêmicos prévios ou eventos isquêmicos transitórios. Os pacientes foram submetidos a angioplastia para colocação de stents, uma pequena prótese que impede o fechamento da artéria e, por consequência, a obstrução do fluxo sanguíneo. O trabalho foi apresentado durante o Congresso Catarinense de Clínica Médica realizado em Florianópolis entre 31 de outubro e 2 de novembro.

 

 

Semana do AVC: fomento à prevenção pode diminuir número de casos

Todos os anos, a última semana do mês de outubro é dedicada à prevenção aos acidentes vasculares cerebrais. O Dia Mundial do Acidente Vascular Cerebral, lembrado em 29 de outubro, foi instituído pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em parceria com a Federação Mundial de neurologia em 2006 com o objetivo de fomentar o engajamento dos profissionais de saúde na orientação e prevenção da condição, que é uma das principais causas de morte e incapacidade no mundo. Especialistas afirmam que medidas preventivas, como o controle da pressão arterial e dos níveis de gordura no sangue, podem evitar parcela significativa dos casos.

O tabagismo é outro fator de risco a ser considerado. A estagnação no número de fumantes do país e a inserção de dispositivos de fumar que possuem apelo junto ao público jovem geram preocupação entre os especialistas. Ainda que os AVCs sejam mais prevalentes no gênero masculino, o público feminino deve estar atento a dois aspectos que, combinados a outros fatores de risco, podem aumentar as chances de ocorrência de um AVC: o uso de anticoncepcionais orais e a presença de enxaqueca com aura.

 

Grupo de Pesquisa em Neurocirurgia Endovascular dedica-se ao estudo de técnicas minimamente invasivas

O grupo de pesquisa liderado pelo professor Leandro Haas dedica-se ao estudo de abordagens cirúrgicas endovasculares, isto é, procedimentos realizados de forma minimamente invasiva, por dentro dos vasos sanguíneos. Os pesquisadores explicam que a abordagem endovascular tem permitido grandes avanços no tratamento de doenças como AVCs, aneurismas cerebrais e malformação arteriovenosas. Entre as principais vantagens dessa abordagem estão o menor tempo de internação, menores taxas de complicações e recuperação mais rápida. O grupo de pesquisa em Neurocirurgia Endovascular foi fundado por Haas em 2017 hoje conta com 30 participantes de diversas fases do curso de Medicina da FURB. O grupo se prepara para lançar um livro nos próximos meses. A publicação deve ser lançada pela Edifurb e vai reunir artigos resultantes da experiência de pesquisa acumulada pelo grupo.

 

FURB Pesquisa

O estudo foi tema do programa FURB Pesquisa desta semana: