A pesquisa nacional debatida na FURB sob visões regionais

A pesquisa nacional debatida na FURB sob visões regionais

Foto: CMC

Dúvidas sobre o destino da pesquisa universitária brasileira e a situação dos órgãos financiadores da ciência nacional estiveram no centro da roda de conversa que marcou os 20 anos do Núcleo de Pesquisas em Desenvolvimento Regional da FURB NPDR), na noite de quarta-feira, 21 de agosto. Como convidado para o debate " A importância da pesquisa no Brasil em tempos sombrios", esteve presente o doutor em Geociências Cidoval Moraes de Sousa, da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e integrante do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional daquela instituição.
 
Com seu Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional congênere ao da UEPB, a FURB oferece cursos de Mestrado e Doutorado que atraem pesquisadores de todas as regiões do Brasil e do exterior. São justamente as diferenças entre os estados brasileiros que estão definindo a política brasileira de enxugamento em investimentos científicos. Sobre esse panorama, Cidoval de Sousa acredita que “por trás dos cortes não tem crise fiscal nem falta de dinheiro”. O pesquisador lembra que só quem perdeu bolsas de pesquisa foram programas com notas 3 e 4 no sistema da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes|), com escala até 7.
 
Ao trazer os números, o acadêmico recomentou a interpretação dos dados. Revelou que os programas com nota 3 e 4 estão majoritariamente no Norte, Centro-Oeste e Nordeste e os de nota 5, 6 e 7 estão no Sul e Sudeste, historicamente alvo de maiores incentivos. Além concentrar as verbas de pesquisa em áreas mais ricas, Sousa acrescentou  que a estatística coloca no fim do ranking a área de Ciências Humanas  a qual, segundo ele, nos estados mais pobres do país, tem apenas dez anos de caminhada de pesquisa, impossibilitando de alcançar em tão pouco tempo a performance dos programas de centros privilegiados ao longo do século XX. A exclusão significa 84% de programas regionais, alertou.
 
O pró-reitor de Pesquisa e Extensão da Universidade Regional de Blumenau, Oklinger Mantovaneli, participou da roda de conversa. Ele integra o PPGDR, que é um dos 3 programas (dentre os 15) com nota 5 na FURB. Ele falou sobre os desafios da universidade blumenauense cumprir com seu papel e cumprimentou o professor e pesquisador Ivo Theiss, co-fundador do NPDR da FURB, destacando a produção a partir da Universidade, da Revista Brasileira em Desenvolvimento Regional.
 
Sobre as diferenças entre instituições e regiões, o convidado Cidoval Sousa chamou atenção para o fato de que “quem avalia são os mais bem avaliados”, perpertuando-se um sistema injusto, com critérios que não permitem a transformação da realidade brasileira de exclusões. Acha improvável, porém, a extinção do CNPq, como alguns propugnam, ao recordar que CAPES e CNPq possuem um legado cinquentenário e, paradoxalmente, foram órgãos criados para promover o desenvolvimento industrial das oligarquias brasileiras. Lembrou ainda que as pós-graduações nacionais são instaladas a partir da década de 60, no período do Governo Militar.
 
Em 2019, lamentou, a UEPB perdeu 5 de seus 15 programas e na região nordestina contabiliza o fechamento de mais de 200 programas. “A definição de cortes é sufocar a pesquisa crítica”, concluiu. A FURB conta com atualmente 478 projetos de pesquisa, nas mais diversas áreas, vinculados ou não a programas de pós-graduação. Tanto os alunos como a comunidade têm o privilégio de descobrir novos conteúdos para a inovação da região a partir da ciência.
 
A Universidade proporciona aos alunos bolsas que variam de R$400 a R$600 reais mensais para o desenvolvimento destas pesquisas. PIBIC/CNPq, PIBIC/FURB,PIBITI/CNPq, Uniedu-PIPe - Artigo 170 e bolsas de pesquisa são garantidas graças a projetos aprovados por agência sde fomento.
 
A desconexão das pesquisas à realidade das pessoas é o que afasta as universidades da sociedade, concordaram os debatedores. “A pesquisa brasileira precisa deixar de ser réplica. As contribuições para ciência internacional e nosso reconhecimento mundial é muito recente. Quase nunca se voltou para questões da realidade local. No final dos anos 90 a primeira inserção internacional brasileira foi com o genoma, na colaboração em consórcio internacional. Mas sem ser protagonista. O Brasil sempre exportou e emprestou cérebros”, avalia, defendendo políticas científicas que promovam autonomia, desfazendo-se das máquinas que ajudaram para acumulação de riquezas no Brasil. Se a pesquisa é feita com temas e métodos de fora,  sinalizou Cidoval Sousa, fica difícil para a Universidade Regional querer estreitar o diálogo com atores locais como, por exemplo, as prefeituras.