Estudantes de escola pública estadual estão produzindo artigos científicos sobre temas de seu cotidiano

Uma pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Regional de Blumenau (PPGE/FURB) tem levado a produção científica ao cotidiano de um grupo de alunos de uma escola pública estadual de Major Gercino, na Grande Florianópolis. O estudo integra um projeto que explora práticas de letramento científico como recursos no combate à desinformação. Como parte do processo, estudantes da Escola de Educação Básica Manoel Vicente Gomes estão produzindo artigos científicos sobre temas de seu cotidiano. O estudo, que está em fase de finalização, é conduzido pela pesquisadora Rozane Fermino, professora da escola e mestranda em Educação, sob orientação da professora Adriana Fischer, Doutora em Linguística.

A pesquisa conduzida por Fermino integra o projeto “Letramentos acadêmico-científicos em contextos universitários: caminhos para o combate à desinformação”, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) e vinculado ao grupo de pesquisa Linguagens e Letramentos na Educação. Fischer explica que os letramentos são um conjunto de práticas sociais que compreendem práticas de leituras, escritas e oralidades. O objetivo é fomentar a capacidade de compreensão e uso de conhecimentos científicos de forma reflexiva. Segundo as pesquisadoras, o projeto responde à necessidade de formar cidadãos críticos diante de um cenário marcado pela desinformação. “O propósito central é que esses estudantes consigam sair do Ensino Médio com uma base teórica, sabendo produzir um bom texto, argumentar, identificar o que é verdade e o que não é, saber onde pesquisar, o que pesquisar”, destaca Fermino.

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A partir do projeto, professora e estudantes se engajaram em um processo coletivo de construção de conhecimento, que teve início com a reflexão sobre o que é ciência e como se faz pesquisa, avançando para a análise de artigos científicos produzidos por professores da própria escola. “Os estudantes analisaram artigos produzidos por pesquisadores que também são professores na escola. Os projetos ali debatidos são projetos que eles fizeram parte, então há uma identificação com o texto”, explica.

Atualmente, os estudantes estão em fase de coleta de dados e fundamentação teórica de suas pesquisas. Os temas escolhidos para investigação científica partem do cotidiano dos adolescentes, como a proibição do uso de celulares em sala de aula, o impacto do trabalho no rendimento escolar e o consumo de jogos digitais, por exemplo. “São temáticas que eles escolheram, que partiram de problemas levantados por eles, sobre os quais sentem necessidade de saber mais”, enfatiza a pesquisadora.

Projeto já apresenta resultados positivos: melhora nos índices do Ideb e protagonismo dos estudantes são destaques

Segundo as pesquisadoras, documentos oficiais têm mostrado que estudantes brasileiros apresentam fragilidades na compreensão leitora e nos modos de produção escrita. “No entanto, quando eles têm suporte de professores com boas intencionalidades e bons conhecimentos científicos, conseguem se desenvolver de forma muito produtiva. É nosso trabalho e nosso desafio contribuir para a qualificação na formação dos professores, mas já trabalhando em diálogo com as escolas, para que implementemos mais a compreensão leitora e a produção desses materiais”, ressalta Fischer. A pesquisadora menciona que as práticas desenvolvidas na EEB Manoel Vicente Gomes já apresentam resultados concretos nesse aspecto. “Nós temos nessa escola, em virtude do olhar tanto dessa professora quanto de outros professores, aumento de índices do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Eles passam a ser leitores mais críticos, produtores mais ativos dos seus textos”, relata.

Fermino, que trabalha diretamente com os estudantes na elaboração dos artigos, aponta que a turma foi receptiva à proposta de produzir ciência. O trabalho desenvolvido coletivamente já permite observar o aprimoramento da qualidade textual, vocabulário e linguagem, além da capacidade de estabelecer relações entre a teoria e os dados coletados. Na avaliação da pesquisadora, a maior potencialidade observada ao longo do processo é fazer com que os estudantes se reconheçam como protagonistas do processo de produção do conhecimento.

Quando finalizados, os artigos produzidos pelos estudantes devem ser debatidos e compartilhados com a comunidade escolar. Além disso, as pesquisadoras pretendem estimular a troca de experiências entre os participantes do projeto e estudantes de Graduação da FURB, além de produzir um site em que serão disponibilizados os trabalhos dos estudantes e materiais didático-pedagógicos elaborados no âmbito do projeto.

FURB Pesquisa

O trabalho foi tema do programa FURB Pesquisa desta sexta-feira: