Pesquisa FURB revela efeitos antioxidantes da própolis de abelha nativa
Por Camila Maurer [15/08/2025] [18 h08]
Ensaio clínico envolveu 79 voluntários, que consumiram baixas doses de própolis por 90 dias
Um estudo desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Regional de Blumenau (PPGQ/FURB) avaliou os efeitos da própolis sobre uma série de marcadores metabólicos associados a risco cardiovascular e revelou que a substância pode apresentar efeitos benéficos à saúde mesmo em baixas dosagens. O estudo foi conduzido pelos pesquisadores Caio Maurício Mendes de Cordova, Doutor em Farmácia, e Joseane Colzani, Mestre em Química. O objetivo dos pesquisadores é contribuir para ampliar o conhecimento sobre os efeitos da própolis, sobretudo a proveniente de abelhas nativas brasileiras, ainda pouco estudadas.
O estudo avaliou os efeitos da substância sobre uma série de marcadores metabólicos, como os níveis de colesterol, triglicerídeos, produção de insulina (hormônio essencial para o controle dos níveis de açúcar no sangue), e o chamado estresse oxidativo, que é um desequilíbrio entre a produção de radicais livres (moléculas que podem gerar danos às células) e a capacidade do corpo de neutralizá-los com antioxidantes. O pesquisador explica que todos esses marcadores estão associados ao risco cardiovascular, que é a probabilidade de um indivíduo desenvolver doenças como infarto e acidente vascular cerebral ao longo da vida.
O principal achado do estudo foi o aumento de moléculas antioxidantes no sangue dos indivíduos que consumiram a própolis, o que pode representar que o organismo está mais protegido da oxidação do colesterol LDL (popularmente conhecido como “colesterol ruim”). A oxidação das células de colesterol é uma das etapas iniciais da formação de placas de gordura que podem levar a infartos ou AVCs. Esse resultado demonstra que mesmo baixas doses de própolis podem produzir efeitos antioxidantes. Ao contrário de estudos internacionais que empregaram doses mais elevadas, as doses usadas neste estudo não foram capazes de diminuir os índices de colesterol durante o período analisado.
O pesquisador destaca, ainda, que uma maior proteção contra radicais livres também protege os órgãos e tecidos do corpo. “O pâncreas, por exemplo, produz insulina. A gente observou nas pessoas que usaram própolis um aumento na produção de insulina, quer dizer, o pâncreas teve uma melhora na sua função. Precisaríamos observar a longo prazo para estudar isso melhor, mas é possível que esse também seja um efeito protetor de um eventual risco de se tornar diabético. E, tornando-se diabético, a pessoa naturalmente está em risco de ter uma doença cardiovascular”, explica.
O estudo investigou os efeitos de dois tipos de própolis: a produzida pela Apis mellifera, espécie comumente encontrada no Brasil, mas originária da África, Europa e Ásia; e a produzida pela Melipona quadrifasciata, popularmente conhecida como Mandaçaia, nativa do Brasil. Cada espécie de abelha produz própolis com características químicas distintas, pois coletam material de espécies vegetais diversas. O pesquisador destaca que o recorte do estudo referente à própolis da abelha Mandaçaia é inédito. “Foi a primeira vez que essa própolis foi estudada em relação aos seus efeitos metabólicos e isso é muito bacana para agregar valor aos produtores”, enfatiza. Os dois tipos de própolis demonstraram resultados semelhantes, o que mostra que a própolis da abelha nativa Mandaçaia também pode ter efeitos benéficos à saúde, aspecto ainda não havia sido demonstrado na literatura científica.
A própolis é uma substância produzida pelas abelhas para proteger a colmeia contra invasores externos, como fungos e bactérias, motivo pelo qual tem sido, historicamente, usada pela sabedoria popular para múltiplos fins terapêuticos. “A própolis é um produto bastante demandado, principalmente por alguns países. O Japão é o maior importador mundial de própolis, eles compram quase toda a própolis brasileira. Claro que a gente encontra a própolis para vender no Brasil, mas a maior parte é vendida ao Japão por um valor bastante significativo, pode chegar a mil dólares por quilo”, destaca. A substância é composta por cera e materiais vegetais coletados das plantas.
Como a pesquisa foi realizada
O ensaio clínico contou com a participação de 79 voluntários entre 20 e 64 anos. Antes de iniciarem o tratamento, os participantes tiveram amostras de sangue coletadas para viabilizar a posterior comparação dos parâmetros bioquímicos. Os voluntários foram divididos em dois grupos de forma aleatória: um grupo recebeu cápsulas contendo 100 mg de própolis (de Apis melífera ou de Melipona quadrifasciata) e outro recebeu cápsulas de placebo. Nessa etapa, nem pesquisadores, nem voluntários sabiam quais voluntários estavam consumindo a própolis ou o placebo (um tipo de estudo classificado como randomizado duplo-cego). Os participantes consumiram as cápsulas uma vez ao dia por 90 dias. Ao final do período de tratamento, uma nova coleta de sangue foi realizada para permitir a comparação dos marcadores bioquímicos. Nenhum efeito adverso foi relatado durante o estudo.
FURB Pesquisa
O trabalho foi tema do programa FURB Pesquisa desta semana.