Pesquisadores FURB participam de missão científica à Amazônia

Pesquisadores FURB participam de missão científica à Amazônia

Foto: RTE FURB

Missão integra projeto de pesquisa de âmbito nacional

 

Pesquisadores vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade Regional de Blumenau (PPGDR/FURB) participaram de uma missão científica que incluiu os estados do Maranhão (MA), Tocantins (TO) e Amapá (AP) entre 25 de outubro e 5 de novembro. A viagem é uma das atividades previstas pelo projeto de pesquisa “Cadeias produtivas dos povos das águas e da floresta: fomento e catalogação coparticipativa” financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc). Participaram da missão os pesquisadores Cristiane Mansur, Luciana Butzke, Ivo Marcos Theis, Luciano Felix Florit, Patrícia Dornelles de Aguiar, Vinícius Vieira e Bruna de Oliveira e Ana Clara Medina Menezes de Souza, do PPGDR/FURB, além de pesquisadores da Universidade Federal do Amapá e da Universidade Federal do Norte do Tocantins.

O projeto, que teve início em 2023 e segue até o final de 2025, objetiva analisar e fomentar cadeias produtivas interrompidas ou alteradas por intervenções que deixaram as populações vulneráveis. Acompanhada de pesquisadores locais, a equipe do PPGDR conheceu, in loco, a realidade vivida pela população de Babaçulândia, no nordeste do Tocantins, que teve seus modos de vida e fontes de renda radicalmente alterados pelos impactos da construção da barragem da Usina Hidrelétrica Estreito, localizada no Maranhão. Na avaliação do pesquisador Vinícius Vieira, mestrando em Desenvolvimento Regional, o contato com a população local permitiu compreender a abrangência dos impactos gerados pela intervenção, tema central de sua pesquisa de Mestrado em andamento, orientada pelo professor Luciano Florit. O pesquisador explica que a construção da barragem da usina deixou parte do município embaixo d’água. O transporte de barco através do rio, comumente utilizado pela população antes da construção da barragem, foi interrompido, afetando não apenas o comércio, mas também alterando a dinâmica das relações entre famílias que habitam lados opostos do município.

A agricultura de vazante, que cresce à beira dos rios pela mudança do fluxo da água e era fonte de subsistência para muitas famílias, também foi interrompida pelos impactos da barragem. “A inauguração dessa usina já tem mais de uma década e essas pessoas viviam de uma maneira que nunca mais vai poder ser vivida. A maneira que a barragem alagou aquela área da cidade também afetou os igarapés, os riachos que ficam na lateral, onde acontecia essa agricultura de vazante”, explica o pesquisador. A temporada de praias, que era a principal atividade econômica da região, também foi alterada. “Para eles, a praia de rio era não só uma forma de lazer muito forte, mas principalmente uma maneira de juntar dinheiro durante uma temporada do ano. Os barraqueiros montavam barracas à beira do rio e havia um fluxo de milhares de pessoas ao mês que, de certa forma, deixavam seu dinheiro naqueles municípios”, enfatiza Vieira.

Além de Babaçulândia, no Tocantins, e da Usina Hidrelétrica Estreito, no Maranhão, os pesquisadores visitaram, ainda, reservas extrativistas no sul do Amapá, região marcada por lutas pela proteção das terras e da biodiversidade. “Lá no Amapá, visitamos essas reservas e conversamos com os extrativistas que vivem da castanha do Brasil, que é mais conhecida como castanha do Pará. A castanha extraída na região que visitamos vai para a usina de beneficiamento no Pará. Então, o PIB fica no Pará e ela é exportada a partir do Pará”, explica Cristiane Mansur, Doutora em Ciências Humanas e professora do PPGDR/FURB. A coleta da castanha é um trabalho pesado, pois elas ficam no interior de um invólucro rígido como madeira, que os extrativistas chamam de ouriço. Para extrair as castanhas, é preciso quebrar o invólucro com uma machadinha. A incursão na mata para a coleta também é marcada por dificuldades: são horas de caminhada dentro da floresta para coletar os ouriços que estão no chão.

O projeto “Cadeias produtivas dos povos das águas e da floresta: fomento e catalogação coparticipativa” integra a iniciativa Amazônia +10, promovida pelo Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) e do Conselho Nacional de Secretários para Assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação (Consecti), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O objetivo da iniciativa é fomentar a pesquisa e inovação na Amazônia Legal, com foco no desenvolvimento sustentável e inclusivo.

Mansur ressalta que a colaboração entre programas de pós-graduação é incentivada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que avalia os programas de Mestrado e Doutorado do país. “A Amazônia é uma região muito importante para o mundo inteiro e, para nós, é muito oportuno ter alunos, doutorandos e mestrandos, vinculados a esse projeto e produzindo conhecimento de forma conjunta”, enfatiza a pesquisadora.

 

Pesquisadores do PPGDR participam de projeto internacional sobre governança da água

O caso de Babaçulândia (TO) é também objeto de um projeto de cooperação internacional que investiga questões relacionadas à governança da água no contexto das mudanças climáticas. No âmbito desse projeto, a pesquisadora Cristiane Mansur, professora do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR/FURB) participou de uma missão a Portugal entre 16 e 29 de novembro para conhecer o sistema de abastecimento de água de Lisboa e compreender como o país tem lidado com o aumento do nível do mar na zona costeira causado pelas mudanças climáticas.

A missão internacional integra o projeto “Desafios escalares da governança da água em territórios hidrossociais no Brasil em contexto de mudanças climáticas: um estudo comparado com México, Portugal e Inglaterra”, que objetiva investigar e propor políticas públicas de governança da água para três territórios brasileiros - o Cariri paraibano (PB), o Alto Vale do Itajaí (SC) e Babaçulândia (TO) –, além de realizar um exercício comparativo em relação às realidades vivenciadas por Portugal, México e Inglaterra. O projeto é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e é desenvolvido em parceria com a Universidade Estadual da Paraíba, Universidade Federal de Campina Grande, Universidade Veracruzana, no México, Universidade Central Lancashire, na Inglaterra e Universidade de Lisboa, em Portugal.

A pesquisadora Cristiane Mansur explica que cada um dos territórios analisados enfrenta desafios diversos em relação à governança da água. O cariri paraibano, localizado no semiárido, sofre com a instabilidade da disponibilidade de água e falta de acesso ao serviço de esgotamento sanitário. No Alto Vale do Itajaí (SC), os desastres causados pelas enchentes e deslizamentos, além do saneamento básico inadequado, têm impactado a qualidade de vida da população. Babaçulândia (TO), por sua vez, sofre os impactos da barragem da Usina Hidrelétrica de Estreito, que inundou a maior parte do município e interrompeu atividades produtivas locais, comprometendo a renda da população. A intenção dos pesquisadores é propor formas de desenvolvimento de autonomia para as populações envolvidas e políticas de governança que ajudem a superar os problemas enfrentados.

A interlocução com universidades estrangeiras integra os esforços de internacionalização preconizados pela Capes para os programas de pós-graduação brasileiros. Além da missão a Portugal, os pesquisadores também devem investigar as políticas ambientais e práticas comunitárias da Rede de Custódios da Área Natural Protegida dos Bosques e Selvas de Xalapa, no México, e as medidas de mitigação de enchentes e desastres costeiros adotadas pelo Reino Unido.

 

FURB Pesquisa

O trabalho foi tema do programa FURB Pesquisa desta semana: