Pesquisa de Doutorado do PPGE/FURB investiga como práticas colaborativas podem gerar formação e emancipação
Por Camila Maurer [25/07/2025] [15 h14]
Uma pesquisa de Doutorado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Regional de Blumenau (PPGE/FURB) está investigando o modo como práticas colaborativas podem se tornar espaços de formação e emancipação. O estudo adota como objeto o Coletivo Laboral Multicultural de Experimentações e Intervenções Artísticas (Colmeia), coletivo artístico que desenvolve atividades em Blumenau desde 2012. A pesquisa é conduzida por José Inácio Sperber, doutorando em Educação, sob orientação da professora Carla Carvalho, Doutora em Educação e líder do Grupo de Pesquisa Arte e Estética na Educação (GPAEE/FURB).
Os pesquisadores compreendem o Coletivo Colmeia como um espaço de educação não formal que contribui para a educação estética de artistas e não artistas. “Nesse coletivo, existem percursos de educação. Dos artistas e também de pessoas que não são artistas, mas que buscam no Colmeia um lugar para se emancipar, se relacionar e viver a arte de uma outra forma. Isso me instigou a pesquisar o coletivo Colmeia e defender que existe, sim, educação lá dentro”, afirma.
Os pesquisadores investigam como se constitui a autoria dos sujeitos nas experiências coletivas de educação estética promovidas pelo coletivo, isto é, como cada indivíduo se forma e se transforma ao participar das práticas artísticas do grupo. A tese, ainda em desenvolvimento, propõe que a autoria, compreendida como expressão que se constrói no diálogo com o outro, é um processo relacional e coletivo. Para além da produção de obras, a pesquisa aponta para a arte como prática de formação capaz de ressignificar relações sociais e espaços urbanos.
O processo de pesquisa incluiu visitas ao Centro de Memória do Teatro Carlos Gomes e ao Arquivo Histórico José Ferreira da Silva para levantamento de materiais que ajudem a contar a história do coletivo, como recortes de jornal e fotografias, por exemplo. “Um dos objetivos da minha pesquisa é fazer essa construção histórica do que é o coletivo em Blumenau, porque a gente não tem isso sistematizado”, explica. No atual estágio da pesquisa, Sperber trabalha na realização de entrevistas com pessoas que estão ou estiveram envolvidas com as atividades do Colmeia.
A motivação para estudar o tema nasceu da própria trajetória do pesquisador, que integra o grupo como artista e ajudou a criar, em 2022, um grupo de trabalho para fomentar espaços de ensino e aprendizagem nas atividades promovidas pelo coletivo. As atividades que deram origem ao coletivo Colmeia tiveram início em 2009. A partir de 2012, um movimento mais estruturado apresentou ao Teatro Carlos Gomes uma proposta de ação cultural anual de acesso gratuito a ser realizado nas dependências do teatro. Desde então, o grupo realiza duas ações principais: o “Grande Evento”, que contempla dois dias de programação cultural realizados no Teatro Carlos Gomes todos os anos no último final de semana de agosto; e as chamadas “polinizações”, em que os artistas levam as atividades do coletivo aos bairros durante todo o ano.
Os pesquisadores destacam que o coletivo tem sido capaz de movimentar culturalmente a cidade ao longo dos anos. “Ele é tão vivo dentro da nossa cidade a ponto de trazer diversas formas de manifestações artísticas para um lugar como o Teatro Carlos Gomes, que tem uma representação muito significativa dentro do nosso contexto social e cultural blumenauense. Nesses dias, o teatro abre as portas para várias pessoas que talvez no seu cotidiano não adentram esse teatro. Para nós, interessa muito entender como se dá essa dinâmica para poder pensar ações educativas para outros contextos”, destaca Carla Carvalho, orientadora do estudo.
Ainda em execução, a pesquisa já revela questões para reflexão. Entre os aspectos destacados pelo pesquisador estão o papel do coletivo no processo de autorreconhecimento como artista. “Na medida em que ele chega em uma reunião ou atividade, como já aconteceu, e discursa pra todo mundo que está ali, ele se reconhece como artista no Colmeia porque ele não encontrava na cidade outros espaços que o constituíssem como artista”, revela. Para Carvalho, a interação entre artistas ingressantes e membros experientes do grupo também fornece elementos para pensar as práticas educativas. “A gente percebe que os jovens artistas entram nesse coletivo e vão aprendendo com os artistas mais experientes, assim como os mais experientes também têm uma energia com os jovens artistas. Então tem uma aprendizagem que acontece ali. Ela é horizontal, não hierárquica, e nos abre a possibilidade de entender um pouco quais dinâmicas constituem esse coletivo como ele é, dinâmico, vivo, que está sempre se retroalimentando”, destaca.
Grupo de Pesquisa Arte e Estética na Educação (GPAEE/FURB) investiga relações entre arte e educação
A pesquisa conduzida por Sperber e Carvalho vincula-se às atividades do Grupo de Pesquisa Arte e Estética na Educação (GPAEE/FURB), que se dedica a investigar relações entre arte, estética e educação em contextos educativos formais e não formais a partir de uma perspectiva crítica. “A gente tenta sempre investigar como a arte pode nos tornar sujeitos mais sensíveis, mais atentos, mais críticos, e como a arte pode nos emancipar e possibilitar um olhar mais atento a esse momento que a gente está vivendo”, explica a líder do grupo.
Atualmente, pesquisadores vinculados ao GPAEE/FURB têm trabalhado em pesquisas que investigam exposições de arte em espaços escolares, formação de professores de bandas e fanfarras escolares, acolhimento a diversidades no ambiente universitário por meio da educação estética, percursos educativos através da prática de capoeira e elaboração de conceitos de arte por estudantes da Educação Básica.
FURB Pesquisa
O trabalho foi tema do programa FURB Pesquisa desta semana: